segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mais um final de semana

Nesse final de semana não choveu durante exatamente uma hora: o tempo de eu correr no mercado comprar víveres e voltar. Parece praga! Mais um final de semana trancada em casa trabalhando e curtindo o melhor da programação local na tv. Considerando o ritmo da minha vida acadêmica no último mês (reunião em cima de reunião + tese), até que não é de todo mal.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Esqueci

No meio de todas essas novidades dicionarísticas, celularísticas e defesísticas eu acabei esquecendo que fui convidada pra fazer uma fala no grupo de nominais nus aqui da universidade no dia 17 de março. Quase caguei nas calças, afinal todos os fodões que sabem muito mais do que eu estão nesse grupo. Mas né, tá no inferno abraça o capeta hehehehe.

Agora sim: fui!

Estou armada!

Pra compensar a pasmaceira (e a bunda quadrada de tanto trabalhar) de quarta e quinta, as coisas hoje foram bem movimentadas.

Pra ser bem sincera, eu nem tava a fim de ir pra universidade. Tava aquela chuvinha fina que quase nem é chuva, é uma água pairando constantemente sobre as nossas cabeças, molhando nossas roupas, calçados e calçadas. Mas aí pensei que eu já não tinha ido dois dias... Na quarta não fui por causa da enxaqueca; e ontem não fui porque tinha tanta neblina que não dava pra enxergar um palmo na frente do nariz o dia inteirinho. Me senti um personagem de "Ensaio sobre a cegueira". Pros que não acreditam:


Enfim, encarei a elevadíssima umidade relativa (e absoluta) do ar e fui. Tinha reservado uns livros na biblioteca, então como vi que o ônibus ia demorar 10 minutos pra chegar, resolvi passar lá antes. Só que eu tinha esquecido que tinha reservado quatro livros, e aí tive que carregar tudo pra universidade. Azar, fi-lo. Cheguei no ponto e logo o ônibus veio.

Aliás, acho que isso eu não comentei: em todas as paradas de ônibus tem um painel eletrônico indicando quais são os próximos ônibus e quanto falta. Até hoje só vi eles chegarem um pouco adiantados, mas nunca vi atrasar. É impressionante. Também é impressionante que o Brasil seja o único país em que as paradas não são identificadas por nomes e/ou números e em que os ônibus não têm sistema de som e letreiro indicando qual é a próxima parada. Mas temos o pré-sal, que é muito melhor que isso, não é mesmo?

Desci do ônibus e apesar do peso na bolsa resolvi entrar na livraria e comprar meu dicionário. (Esse ímpeto foi motivado pelo e-mail que eu recebi ontem da funcionária da universidade pedindo mil desculpas pela demora na liberação dos meus euros queridos e jurando que semana que vem se resolve.) Pois bem. Entrei e pedi pra ver dicionários inglês-holandês, italiano-holandês ou português-holandês. A senhora que me atendeu, muito mas muito educada mesmo, me mostrou alguns, a maioria enormes e só de uma língua pra outra (sem o vice-versa). Acabei escolhendo esses dois volumes, que têm um tamanho bom e são bem completinhos: 


Cada volume era €9,99, logo, o combo saiu por €19,98. Achei bem razoável considerando que o único que eu vi no Brasil com preço razoável era um volume só, grande, nada portátil, por R$110. A moça colocou os dois num saco de papelão, daí viu que eu tava em apuros pra carregar minha bolsa e me ofereceu uma sacola de plástico. Foi a minha salvação, na hora de voltar pra casa botei vários livros na sacola hehehe.

Cheguei na universidade, bati um papo com o porteiro da manhã, peguei a chave-mestra, mais umas pastinhas e um bloco (mais coisas pra carregar, mas eu tava precisando) e fui dar um oi pro Norbert e pedir pra ele me ajudar a pagar meu aluguel. Cara-de-pau, eu sei, mas tem que estar pago até dia 1 e só tenho duas formas de pagar: no escritório da SSH com cartão de crédito (que é pago pelo meu pai) ou transferência bancária (que precisa de uma conta em banco, coisa que eu não tenho). Aí pedi pra ele fazer a transferência pra mim que eu dou o dinheiro pra ele. Morri de vergonha, mas expliquei o motivo e ele topou na boa. Menos mal.

Sentei pra trabalhar e a Emilienne me convidou pra assistir uma defesa. Era de fonologia e não me pilhei muito pra ir, mas ela me convenceu que era legal ir pelo social (e também porque só dura uma hora). Fui. 

As defesas acontecem no prédio principal da universidade, que é bem do lado do Dom e fica colado no nosso prédio. Foi lá que eu almocei com o Norbert no dia em que comi croquetes. A sala é cheia de pompa e circunstância e tem fotos do que eu acredito serem todos os reitores que a universidade já teve. Como a universidade é superantiga, obviamente tem fotos de reitores de peruca branca comprida (que nem as imagens do Bach).

Eu já sabia como eram as defesas aqui na Holanda porque elas são folclóricas (e todo mundo tem inveja). Vou explicar por quê:

- a defesa dura só uma hora;
- tem um monte de professores na banca, talvez mais de dez;
- alguns professores da banca são autoridades, não são da área de especialidade do candidato;
- cada professor tem direito a apenas uma pergunta;
- todos os professores usam togas e chapeuzinhos com formatos diferentes (imagino que cada chapeuzinho simbolize o ranking da pessoa);
- antes de a banca entrar, entra um bedel, também paramentado, com um cajado de metal. Ele bate o cajado no chão, todo mundo levanta e a banca entra e a defesa começa;
- passados 40 minutos de perguntas da banca, o bedel entra de novo, bate o cajado no chão e a conversa tem que encerrar. Não importa se tem alguém falando, tem que parar imediatamente (olha que maravilha!!);
- todo mundo levanta, a banca sai e delibera;
- a banca volta, o candidato e os seus dois paraninfos se apresentam diante da banca e um membro lê um documento de três páginas, aparentemente bem-humorado (porque todo mundo riu), em holandês (logo, eu não ri);
- todo mundo bate palmas e aí acabou. 

Ou melhor, não acabou. Vai todo mundo pruma outra sala onde tem uma recepção. O candidato se posiciona no fundo da sala, com um paraninfo de cada lado, a banca entra, cumprimenta o candidato e vai comer e beber. Enquanto isso, forma-se uma fila pra cumprimentar o doutor. Todo mundo cumprimenta o doutor antes de comer/beber. Como eu tava com a Emilienne, acabei cumprimentando o cara (que nunca me viu mais gorda). Depois voltei pro escritório porque achei estranho ficar fazendo social na festa do cara que eu nem conheço (não teria cerimônias pra fazer isso no Brasil, afinal já participei de todos os coffee-breaks de um congresso que nem era no meu prédio sem efetivamente participar do congresso, mas aqui a coisa é mais formal e o povo repara). 

Já eram quatro da tarde e eu não ia mais trabalhar mesmo. Resolvi sair à cata das lojas de celular pra comprar um chip. Olhei direitinho no mapa, deixei minhas coisas no escritório e fui, munida de chipknip de 20 euro, 15 euro em dinheiro, chave do escritório, cartão de acesso da universidade, passaporte, mapa e celular. Dei dois passos fora do escritório e dois caras vieram me pedir informação: "onde tem um pub legal por aqui?". Expliquei que cheguei há pouco tempo e não tinha como dar essa informação, eles agradeceram e seguiram o rumo deles. 

Eu achei tudo incrível. Já tinha feito aquele mesmo caminho no dia em que fui na loja da Apple com o Norbert, mas tava de noite e não deu pra ver muita coisa. Hoje tava de dia e as ruas tavam bombando, tinha muita gente passeando, comprando, andando. Vi restaurantes. E lojas. Lojas, muitas lojas de tudo quanto é coisa legal: roupas, calçados maravilhosos por preços bem acessíveis, bolsas, acessórios, coisas pra casa, enfim, muita coisa legal. Minha nossa senhora da bolsa em euros, faz a minha bolsa sair logo pra eu poder pelo menos sonhar em comprar uma das mil botas lindas que eu vi nas vitrines? Amém.

Caminhei um bom tantinho até chegar nas lojas. Ah, e no caminho vi duas coisas de interesse público: batata-frita enrolada num papel em forma de cone com maionese por cima (prato típico da culinária holandesa - sério!) e tamancos de madeira. Viu, mãe? Já sei onde comprar!

Entrei na Vodafone e fechei negócio. Comprei um chip pré-pago com €5 de crédito por €7,50 (mais €5 de bônus cadastrando o celular na internet, coisa que eu fiz assim que cheguei em casa). Na verdade eu queria comprar €20 de crédito, mas a máquina de chipknip deles tava quebrada e não deu. Vou ter que comprar outra hora. O bom é que dá pra comprar crédito em qualquer lugar, e a cada €20 de crédito a gente pode pedir bônus de mensagens ou ligações grátis. Bem tri.


Na volta pra universidade, duas gurias me pararam pra... pedir informações! Gente, que mico, nos Estados Unidos toda hora me pediam informações, e não só em College Park e D.C.. E agora aqui também! Será que eu tenho uma cara tão comum que pareço nativa em qualquer lugar? Será que eu pareço sempre tão bem entrosada à cultura local? Será que eu tenho cara de confiável? Não entendo. Só sei que é sempre assim. Tudo bem que eu me adapto fácil mesmo, já morei em 4 países (contando o Brasil), visitei um além desses (e me pediram informação lá também), já morei em 3 capitais brasileiras e realmente não sou do tipo que custa a se adaptar/não se adapta/chora de saudade. Mas daí a ficarem sempre me pedindo informação já é demais... rs.


Chegando em casa, tomei um semipau pra cadastrar o número na página em holandês, mas meu dicionário ajudou bastante e consegui. As mensagens que eles me mandam também são em holandês. Configurei a caixa postal e quando a gente liga a gravação fala meia hora em holandês, mas depois te dá a opção de mudar pra inglês e aí a vida fica bem mais fácil. Tou com dificuldade de receber mensagens (ou meus compatriotas tão com dificuldades de mandar), mas já recebi uma diretamente dos EUA, o que significa que o celular funciona pra mandar e receber mensagens. As funções do tipo msn acho que não vão funcionar porque né, aqui não é Estados Unidos e as companhias de celular ainda não chegaram tão longe no serviço. Mas uma mensagem pros EUA custa €0,29, bem pagável. Ligar pro exterior tá fora de cogitação a menos que aconteça uma coisa muito muito grave ou eu fique milionária, mas pelo menos posso avisar as pessoas de que estou viva usando o celular. Elas é que vão ter que aprender a me responder hehehehe. Mas já vi na internet como é, tem um zero na frente dos números de celular que tem que deixar de fora quando manda mensagem ou liga do exterior (sim, também tou me perguntando pra que que serve o zero se na hora de ligar a gente não usa, mas deixa quieto).

Agora, se me dão licença eu vou cair na cama e rezar pra amanhã fazer um dia razoável. Tou louca pra ir passear no centro!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mais clima

Mas já que estamos falando de tempo, deixa eu mostrar pra vocês as fotos do dia em que Utrecht virou Carlos Barbosa:



Naquela mesma noite, olha só que coisa linda apareceu na minha janela:


E ontem de manhã, com todo o frio que fez, os fiordes amanheceram todos congelados. Nem preciso dizer que hoje tava ainda mais congelado, né?


Neve

Hoje não foi um dia legal... Tive uma enxaqueca daquelas e não consegui fazer nada o dia todo: nem trabalhar, nem ir pra aula. Odeio acordar com enxaqueca, mas às vezes acontece e tem que agüentar, né? Tomar um remedinho, ficar quieta e esperar passar. Foi o que eu fiz.

Aí no final da tarde, quando eu finalmente comecei a me sentir melhor, Deus resolveu me dar um prêmio de consolação e mandou uma nevinha pra me fazer sorrir. Não foi nenhuma neve gigantesca, mas nevou mansinho por pouco mais de uma hora. Chegou a acumular um pouquinho e eu tirei algumas fotos pra vocês verem:

parece chuva, mas é neve

tudo branquinho lá embaixo

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Eu conheço alguém do Suriname!

Hoje acordei com temperatura de -4ºC e sensação térmica de -11ºC. E sol! Nada de nuvens, nada de neblina, nada de vento. Aliás, essa parece ser uma boa generalização sobre o clima daqui: os dias de sol sem nuvens sem vento e sem neblina são os mais frios. E hoje certamente foi o meu dia mais frio até agora: saí de casa 10:30 e ainda tava -2ºC com sensação de -8ºC. Saí de calça de lã, meia-calça de lã, meias peludinhas, bota de cano alto, segunda pele, básica de lã, cachecol, sobretudo, touca e luvas de couro e ainda assim tava sentindo um friozinho.

Entrei no ônibus, encostei o cartão pra pagar e nada. Tava dando uma mensagem diferente no visor da leitora, mas né, com o meu estupendo holandês não consegui entender. Também não tinha como anotar, porque eu tava de luvas e segurando meu copo de café. Fui até a outra porta ver e tava a mesma coisa. Sentei e rezei pra não aparecer um controlador. Depois notei que ninguém tava encostando o cartão pra entrar e sair e fiquei mais tranqüila: pelo menos se eu fosse presa não ia sozinha hehehe. Mas no fim não apareceu nenhum controlador e eu não fui presa.

Cheguei na portaria e o porteiro só me olhou com aquela cara de "ainda não tenho uma chave pra ti". Na verdade são dois porteiros: o que está lá de manhã quando eu chego e o que está lá no fim da tarde quando vou embora. O do final da tarde é o gaiato que me levou no departamento no primeiro dia que eu fui pra universidade. O outro não é gaiato, mas é bem gente boa também.

A história da chave tá meio chata, e ainda vai demorar pra se resolver, pelo jeito. Ultimamente eu não tenho tido problemas, mas na semana passada o porteiro tava doente, tava só um pessoal da segurança na portaria e eles não queriam me dar a chave-mestra. O carinha foi comigo até o escritório abrir a porta e disse que quando quisesse sair era só ligar na portaria que ele vinha de novo. O problema é que se eu quisesse ir no banheiro tinha que chamar o cara pra vir trancar e depois abrir de novo cinco minutos depois. Um saco. Nesse dia eu tinha uma reunião e só larguei minhas coisas e deixei ele trancar de novo. Como a minha reunião não durou nem 20 minutos, quando acabou lá fui eu atéééé a portaria pedir pra abrir de novo. Só que aí o alarme de incêndio tava tocando (!) e eles não podiam sair da portaria. E eu não tinha como entrar na minha sala. Fiquei lá feito um dois de paus, "lendo" um jornal holandês e vendo a brigada de incêndio passar. Pelo menos no jornal tinha uma matéria sobre o incêndio na cidade do samba... rs. Mas né, depois de uns quinze minutos lá esperando a tia da segurança me deixou pegar a chave-mestra. De cara feia mas deixou. E não, eu não sei se realmente teve um incêndio ou se foi alarme falso. Não consegui descobrir.

Enfim. Perto do meio-dia o pessoal bateu lá no escritório pra me convidar pra almoçar. Foi bem legal; tinha algumas pessoas que eu já conhecia, outras que eu ainda não conhecia, e pude conversar com todo mundo e socializar (e marcar mais reuniões pra discutir minha tese). Além disso, almocei com míseros €1,56 devidamente pagos com chipknip. Por esse preço tomei uma cumbuca de sopa, comi um pão e um pouco de salada de tomate. A sopa não tava essas coisas, tinha gosto de sopa de pacotinho, mas valeu, especialmente porque ajudou a aplacar o frio.

Fiquei trabalhando até as cinco. Até queria ficar mais, mas tava muito frio na sala. Liguei os aquecedores, mas não funcionou tanto quanto eu gostaria, eu tava congelando da cintura pra cima, então resolvi me mandar. O porteiro gaiato tava na portaria e perguntou se eu já tinha conseguido uma chave. Em holandês, evidentemente. Depois riu da minha cara de pastel e perguntou em inglês. Papo vai, papo vem, falei que a história da chave era discriminação porque eu sou do terceiro mundo, ele perguntou de onde eu era, e não é que ele é do Suriname? Nosso vizinho! Disse que não tá muito feliz de ter vindo pra cá e quer voltar dentro de três ou quatro anos. Falamos sobre a economia, sobre a extensão dos territórios nacionais, altos papos. E ele me disse que eu posso ficar no prédio até 15 pras 10 se eu quiser. Nessa hora ele anuncia no microfone que o prédio vai fechar e daí ele passa corredor por corredor, sala por sala pra ver se tem gente nas salas, pra ninguém ficar trancado. Depois ele tranca o prédio e vai embora. Ele até me falou que uma vez encontrou uma professora desmaiada numa sala: ela era diabética e o nível de glicose dela despencou e ela desmaiou. Se ele não tivesse entrado lá ela teria morrido, imagina! Fiquei aliviada de saber que se um dia me der um troço e eu estiver sozinha alguém vai me achar por volta das dez da noite hehehe.

Passei no mercado aqui do campus antes de ir pra casa, precisava comprar umas coisas. Ainda tenho que escrever um post especial sobre o meu processo de escolha de produtos no mercado... hehehe. Mas esse vai ter que ficar pra outro dia, porque amanhã eu tenho reunião (mais uma!) e preciso trabalhar mais um pouco.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

P.S.:

Não, eu ainda não vi ninguém de croc por aqui. Nem de abrigo. Rasgado ou não rasgado.

Não sou mais pobre :)

Então que na segunda-feira as super-secretárias do UIL OTS (Utrecht University of Linguistics, vulgo "meu departamento") me pediram pra passar lá pra falar com elas. O detalhe é que segunda-feira choveu o dia inteiro e eu não tava a fim de molhar, então resolvi ficar trabalhando no conforto e aconchego do lar.

(A verdade é a seguinte: chuva aqui significa garoa. Quando eu digo que aqui chove muito é porque chove o dia todo, às vezes por vários dias seguidos; mas é sempre garoa. Até agora não vi uma chuva "de verdade". E ninguém aqui usa guarda-chuva quando chove! Não sei se é porque a chuva é fraca ou se é porque eles tão acostumados com o fato de que sempre chove ou se é porque é muito difícil pilotar uma bicicleta e segurar um guarda-chuva ao mesmo tempo. Sei é que eu não gosto de molhar, mas também fico com vergonha de ser a única pessoa em toda Utrecht a estar com o guarda-chuva aberto.) 

Enfim, respondi perguntando se era urgente e a Mariëtte disse que era sobre o meu dinheiro, mas que não era urgente e podia ser no dia seguinte sem problemas. Achei que se eu saísse de casa só pra isso ia parecer a mais desesperada das desesperadas, então deixei pra terça. 

Ocorre que a coisa não é tão simples. Em primeiro lugar, o dinheiro fica num órgão da universidade e eu tenho que ir lá buscar com um formulário devidamente preenchido. Em segundo lugar, não posso pegar todo o dinheiro de uma vez só porque existe um limite na movimentação financeira diária que esse órgão pode fazer. Em terceiro lugar, a pessoa da nossa área que devia assinar o formulário junto comigo não estava lá nem estaria tão cedo porque tá doente. Em quarto lugar, a pessoa que cuida do dinheiro não podia me atender na terça porque estaria em reunião e sabe como é, aqui é tudo com hora marcada, pompas e cerimônias. Me pergunto quando conhecerei a família real. Enfim, não ia rolar pegar o dinheiro. Mas aí a Yvonne foi falar com o Martin, que além de ser um lingüista foda é o diretor do instituto, pra ver se ele podia pelo menos deixar o formulário assinado, porque ele é o diretor e a assinatura dele valia. 

Moral da história: ela voltou lá de dentro com o formulário assinado, pegou uma chave, abriu uma portinha onde tinha uma caixinha com vários euros e me deu alguns. Não sei se foi idéia do Martin, só sei que achei ótimo não ter que andar por aí à cata da tesouraria da universidade pra depois sair de lá de dentro com "eu tenho euros, me assalte" escrito na testa. Assim eles se ressarcem depois e eu não precisei me incomodar. Não sei se vai ser assim sempre, mas achei legal me quebrarem o galho mesmo sem eu ter pedido. Pelo contrário, com essa história do dinheiro eu tou toda hora falando que tá tudo tranqüilo por enquanto, não fiquei pentelhando ninguém porque é como eu disse, as pessoas todas me pareceram muito preocupadas com isso e eu não queria dar motivo pra se preocuparem mais. Só preenchi o formulário dizendo que eu concordava com o valor que me deram e corri pro abraço.

Impulso número 1: correr numa loja de sapatos e comprar vários sapatos-boneca, botas e bolsas de couro legítimo.

Impulso número 2: correr numa loja de roupas e comprar várias camisas, saias, aquele vestido de seda que chama meu nome todo dia de manhã na vitrine da loja, calças de alfaiataria e cachecóis, muitos cachecóis e essas boinas lindas que elas usam por aqui.

Impulso número 3: sentar e trabalhar. É, foi o que eu fiz. Trabalhei até as quatro e meia, depois tomei o rumo de casa. Mas como eu tava feliz porque né, agora eu tenho dinheiro, resolvi ir pro outro lado. Explico: eu sempre saio da universidade e pego a esquerda na Trans, depois esquerda de novo pra Achter de Dom, continuo pela Domstraat e subo reto até a Janskerkhof, onde eu pego o ônibus. Por esse caminho eu passo atrás do Dom, que é lindo de morrer. Aqui dá pra vocês verem:

a rua mais da esquerda é a Trans; a outra é a
Achter de Dom. Tirei a foto na Kromme
Nieuegracht

Nesse dia saí pra direita e me deparei com um mundo totalmente novo. A primeira coisa que eu vi:

Domtoren

E aí entendi: a torre não fica do lado do Duomo. Ou melhor, fica, mas não fica, tem uma rua que passa entre as duas. 

Dom

a torre mais de perto, pra vocês
verem o tamanho. É a construção
mais alta da Holanda

Dom mais de perto
Eu sei que as fotos não tão legais, tava frio e eu tava sem luvas e tinha muito trânsito de bicicletas e eu sempre tenho medo de ser atropelada porque os caras não têm noção do perigo e andam a mil por hora. Outra hora com mais calma eu tiro fotos bem decentes. Inclusive dá pra subir na torre, hehehe adivinha se eu não vou subir.

Voltei pro meu curso normal na Domstraat, mas aí embestei que queria andar e entrei nas ruazinhas transversais e aí tive que conter meus euros que queriam criar asinhas e sair voando pra fora do meu bolso. Entendam, pra quem passou seis meses morando na Croclândia e na terra do abrigo rasgado, ver roupas e calçados elegantes e bem feitos é um alívio. Ai ai.

Não, não entrei em nenhuma loja. Fiquei andando, vendo o que há de interessante por ali. As ruazinhas são estreitas, como em todo centro histórico de cidades européia, mas aqui a rua é dos carros e a calçada é estacionamento de bicicleta. Os pedestres deviam criar asinhas.

Mas é claro que teve UMA loja em que eu entrei. Não comprei nada, só bisbilhotei (ao menos por enquanto). Ganha um doce quem adivinhar.

Leitores com tendência a vertigem, não olhem esse post!

Pra dar pra vocês uma noção da alturinha aqui de casa:


sem pessoinhas...
... e com pessoinhas bem inhas :)

P.S.: Eu avisei!

Mais fotos

meu primeiro dia de sol: 08/02, terça, às 7:40

panorâmica tirada no mesmo dia e hora

pôr do sol

ainda o pôr do sol




no dia seguinte amanheceu tudo branquinho
de geada :)



e o pôr do sol foi mais tímido

céu pegando fogo, segunda, 14/02

A primeira semana

Então que a vida em Utrecht vai bem, obrigada. Tou atrasadérrima nos meus relatos, mas é porque as coisas têm sido bem agitadas por aqui e a carga de trabalho tá no nível "tenho que defender minha tese em junho". Sorry. Deixa eu dar uma atualizada em vocês.

Meu primeiro dia "oficial" na universidade foi segunda, dia 07. O Norbert me levou na sala de um monte de professores pra me apresentar, e um deles já quis se reunir comigo na mesma semana. O Norbert também me levou pra almoçar no clube dos professores, onde eu pude experimentar uma sopa de mostarda tipicamente holandesa (e absurdamente deliciosa) e um prato típico holandês: croquete. Juro! O cardápio tava todo em holandês, aí ele foi me explicando o que era cada coisa. Quando chegou no croquete ele começou a me explicar que era tipo um bolinho, assim e assado, e eu disse: se é o que eu tou pensando a gente tem isso no Brasil também. O nome? Kroketen. Sim. Eu comi. É infinitamente mais sofisticado que os croquetes brasileiros, mas é basicamente a mesma coisa e é bem gostoso. Nesse dia conversamos bastante, depois fui trabalhar no meu escritório, para o qual até hoje não tenho chave, e depois fui na reunião do grupo de sintaxe, que foi bem legal.

Claro, antes do grupo de sintaxe eu tive que correr na estação central pra botar crédito no meu ov-chipkaart, senão ia ter que voltar pra casa a pé. A boa notícia é que eu consegui chegar na estação sozinha e achei sozinha as máquinas pra carregar o cartão. A má notícia é que as máquinas só aceitam cartão, e eu queria pagar em dinheiro porque né, não tenho cartão. Fui me informar e pra carregar com dinheiro tinha que ir no mesmo lugar em que eu comprei o cartão e esperar forever numa fila. Até que não demorou tanto e eu ainda me diverti com as pessoas falando comigo loucamente em holandês. A má notícia é que pra recarregar com dinheiro tem que pagar €0,50. Aproveitei e já tasquei €50 pra não ter que ficar voltando lá toda hora. Só depois é que eu percebi que a estação na verdade é muito perto da universidade e dá pra ir a pé, mas mesmo assim, ficar recarregando toda hora é um pé no saco.

Acontece o seguinte: aqui na Holanda não existe cheque. Todo mundo tem uns tais chipknip, que são cartões com chip que se usa pra pagar absolutamente tudo. Eu achei que fosse um cartão de débito vinculado à conta corrente, mas não é: a gente tem o cartão e carrega crédito nele, que nem no cartão de ônibus. E aí usa pra pagar coisas. Serve basicamente pra não ter que carregar dinheiro pra cá e pra lá. E por exemplo, a cantina do Transcomplex, onde eu trabalho, e as máquinas de café e refrigerante da universidade só aceitam chipknip, não aceitam dinheiro nem moedas.

Também não sei se eu já contei como funciona o ônibus... É assim: não tem cobrador. O ônibus que eu pego é biarticulado, ou seja, é do tamanho de três ônibus (tipo os de Curitiba). Mas tem ônibus normal também, nas outras linhas. A única forma de pagamento são os ov-chipkaart. Do lado de cada porta (são 4 no biarticulado) tem duas leitoras, e a gente encosta o cartão na entrada e na saída. Aí ele desconta o valor da "corrida". Sim, a gente paga por quilômetro rodado. Numa cidade como São Paulo isso jamais funcionaria, mas aqui, como é pequeno, acho até justo. Na ida pra estação, por exemplo, paguei €0,14, mas a corrida daqui até a universidade é €1,35, que eu até acho bem razoável também. Os trens funcionam no mesmo sistema e acho inclusive que o cartão é o mesmo. Também tem outra: pra entrar e sair por qualquer porta que não seja a dianteira a gente tem que apertar um botão pra porta abrir. O motorista só controla a porta da frente. E antes de as portas fecharem soa um apito avisando que elas vão fechar, que nem no metrô.

Pra quem tá se perguntando se tem sanção pra quem não encosta o cartão, eu respondo: volta e meia sobem controladores no ônibus e passam teu cartão numa leitora que indica se tu encostou o cartão na entrada do ônibus ou não. A multa pra quem é pego é bem alta, pelo que me disseram. (Sim, eu peguei controladores uma vez, na semana passada. É como na Itália, mas em Siena ainda era bilhete de papel e tinha que validar na máquina na entrada. Se não validasse, ou não tivesse bilhete, e um controllore chegasse, a multa era bem salgadinha também. A vantagem de Siena é que tinha um bilhete mensal de €30 que a gente comprava e validava e podia andar o dia inteiro de ônibus por um mês. Só tinha que estar sempre com o bilhete na mão, caso entrasse um controllore.)

Bom, mas aí na terça eu tive uma reunião com a coordenadora da pós-graduação. Foi uma reunião rapidinha, só pra gente se conhecer e tal. Todo mundo aqui se preocupa muito com o meu bem-estar, se eu tou me adaptando, se eu tou feliz e satisfeita, só falta perguntarem se eu tou comendo direitinho. Tratamento vip total. Eu tinha a impressão de que era porque o meu dinheiro ainda não tinha saído, mas agora saiu e as pessoas continuam me tratando da mesma forma. Aliás, durante o período de míngua durante o qual eu não sabia quando veria a cor do dinheiro, eu achei que em algum momento alguém ia abrir a carteira e me dar dinheiro, mesmo eu dizendo que por enquanto tava tudo tranqüilo porque eu tinha trazido uma reserva. 

Na terça eu também fui ver onde era a biblioteca e fazer a minha carteirinha. Foi um processo relativamente rápido, apesar de a moça ter demorado um pouco a entender qual era o meu status na universidade. Ela também não cadastrou minha SOLIS-ID no sistema da biblioteca. O SOLIS-ID é a minha identificação no sistema: com ela eu acesso o computador, meus e-mails, meus compromissos, e deveria acessar também a biblioteca. Assim, eu uso a SOLIS-ID pra tudo, menos pra biblioteca. Paciência.

A SOLIS-ID é muito inteligente: ela permite que eu acesse o meu "computador pessoal" em qualquer computador da universidade. É assim: quando a gente liga um computador e entra com a ID, ele monta todas as nossas preferências pessoais, programas, documentos em qualquer computador do qual a gente esteja acessando. Sem contar que o sistema de comunicação é todo pelo Microsoft Outlook: ali as pessoas agendam compromissos contigo, tem o catálogo de endereços, telefones e salas de todo mundo, enfim, é bem prático.

Na quarta teve a primeira aula da matéria do Norbert sobre localidade. As aulas aqui vão das 13:15 até as 17:00. Basicamente eu sou a única aluna de doutorado na aula, o resto é de alunos de mestrado. A aula vai ser ministrada em conjunto pelo Norbert e pelo Craig Thiersch, que é americano mas trabalha aqui na Europa. Na primeira aula foi só o Norbert e o assunto foi ilhas e subjacência, basicamente. As próximas aulas serão sobre barreiras (talvez a minha última chance de aprender direito barreiras, por sinal) e minimalidade relativizada. Bem bom.

Como a aula era do lado da biblioteca, aproveitei pra ir lá tentar comprar um chipknip pré-pago. A Maaike, coordenadora da pós, foi quem me deu a dica de que eu podia conseguir chipknips pré-pagos descartáveis lá. E realmente, tem uma máquina que a gente escolhe se quer de €10 ou €20, coloca o dinheiro e ele te cospe um cartãozinho. O funcionário da biblioteca me ajudou a decrifrar o holandês, e eu comprei um de €10 pra testar. Usei no intervalo da aula pra comprar uma latinha de Coca por €0,99. Funcionou.

Na quinta já tive minha primeira reunião e devo confessar que eu tava me cagando de nervoso. Me preparei muito, porque a reunião era com o Denis Delfitto, que é italiano e é um dos papas dos nominais nus. Devo dizer que em cinco minutos o nervoso passou por completo: ele é ótimo, perfeito, fantástico e maravilhoso e eu quero ser como ele quando eu crescer. E ele é muito italiano, no melhor sentido do termo. Ficamos horas conversando e não passamos da metade do handout. Ele ficou muito empolgado com a minha pesquisa e já marcamos outra reunião pra semana que vem. Foi muito bom ouvir de uma autoridade no assunto que o meu trabalho é interessante e que eu sou uma ótima lingüista. Quero ele na minha banca!

Na sexta choveu (ooooooh, jura?) e eu fiquei em casa. Só saí no final da tarde pra buscar meus livros na biblioteca. Explico: o sistema de biblioteca aqui é diferente de todos os que eu já vi. A gente procura o livro no catálogo online. Aí se tem e tá disponível a gente pode reservar pela internet. Até aí nada de mais. O detalhe é que tem mais de uma biblioteca, e a gente pode pedir pra retirar o livro onde quiser. Eu queria livros daqui e do centro: reservei e mandei entregar aqui. Se é da mesma biblioteca, demora 4 horas pra ficar disponível; se vem de outra, 24 horas. Eu reservei vários na quinta e na sexta de tarde fui buscar. Eles estavam lá bonitinhos na prateleira de reservas com um papelzinho escrito "Simioni". O funcionário, muito prestativo, me ensinou a retirar no self-service: escaneia o cartão na leitora, empilha os livros no local designado (de cinco em cinco), o sistema escaneia os livros e depois tu só escolhe se quer recibo impresso ou via e-mail. Pra devolver é a mesma coisa: tu mesmo empilha os livros, escaneia e enfia numa portinhola. Muito bom.

E preciso dizer que choveu o final de semana inteiro de novo?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Fotos

Algumas fotos pra vocês verem onde eu ando:


vista da minha janela

Aquelas coisas coloridas são containeres. Como a procura por moradia estudantil é muito grande, os caras empilharam uns containeres, botaram um acesso (se vocês olharem bem tem escadas na parte de trás), mobiliaram e cada container é um apartamentinho tipo o meu, mas um pouco menor. Cada container é alugado por 450 euros mensais. Segundo o Marko os containeres não têm sistema de aquecimento/resfriamento, então é um inferno de quente no verão e um nono círculo do inferno (de Dante) no inverno.


olhem bem e notem que o prédio é vazado
e passa por cima da rua

azoveínha

estrada que vai até o vilarejo lá no fundo

De manhã sempre tem muito movimento de pedestres e ciclistas indo e vindo por essa estradinha. Qualquer hora dessas tenho que ir lá ver qual é a do vilarejo. Fico sempre esperando o tempo melhorar, mas aparentemente o tempo não melhora muito por aqui... rs.


laguinho


panorâmica da minha vista

A primeira incursão à universidade

Pois bem. Na sexta-feira da semana passada, dia 04, fui pela primeira vez pra universidade. Eu sabia o ônibus que eu devia pegar, o ponto em que devia descer e tinha um mapa no qual eu desenhei o trajeto do ponto de ônibus até a universidade. Logo, foi uma barbada. Daqui até a universidade são uns 15 minutos de ônibus (quando muito) e uma caminhadinha de uns 7 minutos. Bem perto pros padrões brasileiros, mas uma distância absurda pros padrões holandeses, segundo me disseram. Tipo, eu estou morando no fim do mundo. Tudo bem que aqui tem patos, corvos e ovelhinhas, mas pô, vamos combinar que daí a ser o fim do mundo tem uma leve diferença. Enfim.

No caminho entre o ponto de ônibus e o prédio tem: 

. pelo menos três cafés muito charmosos; 
. uma loja de esquina, enorme, de partituras (inclusive na vitrine tem algumas partituras que eu tenho);
. uma loja de vitrolas e equipamentos hi-fi;
. um sebo;
. uma livraria;
. uma loja de objetos de arte;
. uma loja de discos;
. o duomo da cidade (cuja torre é a construção mais alta do país).

E é por isso que eu digo que ficar deprimido na Europa é infinitamente melhor do que ficar deprimido no Brasil.

Cheguei no prédio e fui perguntar pro porteiro onde era a sala da secretaria. Só que eu tinha a informação de que era na sala 0.13, que não existe naquele prédio. Ele olhou, olhou, pensou, eu falei em departamento de lingüística e ele fez cara de pastel, aí ele perguntou com quem eu queria falar e eu disse (do meu jeito, é claro) o nome da secretária. Aí ele riu, exclamou "oh!" e disse o nome dela com a pronúncia correta. E me fez repetir até sair certo. Daí me disse que era na sala 0.31, não 0.13, e me levou até lá. No caminho ele me disse que a Mariëtte (a secretária) era uma baixinha grisalha de óculos com cara feia, mas que era gente boa. E eu deduzi que ele era um gaiato, o que de fato tem se confirmado. 

Na verdade o prédio é um complexo de prédios. A entrada principal é pelo Trans 10 (Trans é o nome da rua), mas a secretaria fica no Trans 6 e meu escritório fica no Trans 4. O caminho por dentro dos prédios não é exatamente "por dentro", a gente sai e caminha por um pátio interno bem bonito. Depois o Norbert me explicou que esses prédios foram reformados há pouco porque não havia nenhuma comunicação interna entre eles. Agora tem corredores por dentro e não precisa necessariamente sair pro pátio pra ir de um prédio a outro. Mas as pessoas acabam saindo porque é mais fácil (os prédios são bem labirínticos por dentro).

Enfim, cheguei lá e perguntei se era o departamento de lingüística, ela perguntou com quem eu queria falar, falei que estava procurando o Norbert e ela me disse pra procurar na sala dele. Aí falei que eu era a aluna que tava vindo do Brasil e ela saltou da cadeira, gritou "Simioni!", veio me cumprimentar e fez a maior festa pra mim, daí já veio a outra secretária (a Yvonne, que também trocou e-mails comigo) lá de dentro fazendo a maior festa também, e aí o porteiro foi de volta pra portaria e eu fiquei ali vendo o que elas tinham pra me dizer. Me entregaram um bolinho de folhas com informações sobre tudo, desde como pegar a chave do escritório até como imprimir e informações sobre o grupo de alunos estrangeiros da universidade. A Yvonne foi comigo até o escritório me mostrar onde era (sala 0.45) e lá já tinha uma mesa com um computador e um ramal de telefone só pra mim. Meus dois colegas de escritório também já sabiam quem eu era e de onde eu vinha. Fiquei me achando. A Yvonne me ensinou a iniciar o sistema e me passou os dados de usuário convidado, porque a minha Solis-ID (basicamente, a minha identificação no sistema) ainda não tinha sido emitida.

Enquanto não chegava a hora de falar com o Norbert, usei a internet pra mandar e-mails e pra procurar uma loja da Apple nas redondezas. Depois fui lá falar com o porteiro - que, segundo a Mariëtte, é um negrão grandão (e ele é mesmo) mas não é perigoso (!). Sinceramente, não sei o que concluir disso, mas tudo bem. Lá fui eu de novo falar com ele pra pedir a chave do escritório. Ele não fala muito inglês e eu não falo nada de holandês, mas a gente se entendeu. Na verdade o pessoal da lingüística se mudou pra esse prédio há pouco tempo, e a reforma do prédio também é recente, então tinha caixas e caixas de chaves desorganizadas e a gente ficou brincando de procurar a chave da 0.45. Não tinha. Aí ele viu lá nos registros que cada sala tem 3 chaves, e as 3 da minha sala já estavam com outras pessoas, então tem que mandar fazer uma chave pra mim. Como vai demorar uns 10, 15 dias pra ficar pronta, ele me falou pra pedir a chave-mestra, que em holandês chama loper. Aí ele anotou pra mim num post-it como é que se pede a chave-mestra em holandês. Acho que vou contratar ele pra me dar umas aulas hehehe.

Bom, aí já era hora de conhecer meu novo Norbert. Fui catar a sala 1.54 e aí captei como funciona a numeração: 0 é térreo, 1 é primeiro andar e 2 é segundo andar. Yay! É bom que a sala dele é no mesmo prédio que a minha também, então fica fácil de achar. Eu tava me mijando queria passar no banheiro antes de ir. Fui olhar e tinha duas portas: uma dizia toilet e a outra dizia toileten. Eu sei que -en é sufixo de plural, mas como não sei se holandês é uma língua que marca Caso, fiquei pensando se -en também não podia ser um prefixo de Caso e se a diferença entre toilet e toileten é que um é masculino e o outro é feminino.

(Parênteses: nessas horas eu odeio ser lingüista. Me digam vocês, amigos não-lingüistas que acompanham esse blog, se vocês, estando a ponto de mijar nas calças, ficariam conjecturando se -en é marcador de Caso ou simplesmente entrariam numa das portas e seja o que deus quiser. Pois é. Achei mesmo que não. Fecha parênteses.)

Bom, no fim das contas escolhi uma das portas (lembrei da porta dos desesperados agora: "é a porta número um? é a porta número dois?") e aí entendi: o que diz toilet é um banheiro só: a gente entra e tem a pia e o vaso. O que diz toileten são dois: uma portinha pros homens e uma pras mulheres, e a pia é coletiva. Ou seja: -en é marcador de plural mesmo e deu pra bola.

Devidamente aliviada, fui procurar minha turma o Norbert. Ele tava em reunião e me pediu pra esperar na minha sala que ele me buscava quando acabasse. Obedeci. Fiquei desenhando no mapa o caminho até a Apple Store e tentando pronunciar os nomes das ruas (sério, eu devo parecer maluca quando faço isso, mas é que eu quero aprender!). Logo ele desceu pra me buscar e aí fomos pro escritório dele. Ficamos umas duas horas batendo papo, falando da minha tese e de outros assuntos daqui. Ele também me apresentou pra uma professora e mencionou vários outros que eu devia conhecer. Marcamos outro encontro pra segunda e na hora de ir embora ele se ofereceu pra me acompanhar até o ponto. Aí eu falei que queria ir numa loja que era pro outro lado e mostrei pra ele no mapa. Ele na hora falou: "ah, tu precisa da Apple Store! é no meu caminho, vem que eu te acompanho". 

Gente, a Apple Store fica no centro histórico (a universidade também, mas a Apple é bem no meião). Já tava meio escuro e tal, mas eu fiquei deslumbrada. Imediatamente lembrei de Siena. Entrei na Apple Store e felizmente tinha o adaptador que eu precisava. Comprei, paguei e saí. Eu tinha planejado voltar até a universidade, mas o Norbert falou que dali tinha um caminho mais perto pra chegar no ponto de ônibus. Olhei no mapa e fui. Claro, não queria dar pinta de turista, então me recusei a ficar abrindo o mapa toda hora. Evidentemente chegou um momento em que eu não sabia mais se tava indo pro lado certo ou não, mas como eu sou brasileira e não desisto nunca (e tenho um ótimo senso de direção) continuei andando e eventualmente cheguei onde tinha que chegar. No caminho eu fiquei com vontade de jogar fora todas as minhas roupas e sapatos, porque né, as vitrines são de babar. Nessas horas morar na Europa é uma merda, mas abafa o caso.

Cheguei aqui e passei no mercado pra comprar açúcar (meia hora olhando as embalagens e quase que eu compro açúcar de confeiteiro), sal e mais umas coisas que precisava. Comprei um pacote de biscoito e um torrone e os dois eram horríveis! O biscoito ainda tudo bem, custou 0,99. Mas o torrone era dois euro. Quero meu dinheiro de volta!

No primeiro final de semana eu fiquei em casa, porque é claro que eu fiquei resfriada. Imagina se eu não tivesse tomado vitamina C!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Rapidinha

Eu tenho um monte de coisas pra contar. Mas vocês vão ter que esperar até o final da semana, porque quinta eu já tenho uma reunião com um professor fodão daqui e preciso preparar bem o meu material. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

P.S. sobre o último post

Fui procurar o significado de 'schouder' no Google Translate e é... ombro.
Não quero mais pensar sobre isso!

A primeira noite

Pois bem. Eu cheguei no apartamento, o Marko foi embora e eu imediatamente tentei entrar na internet pra avisar as pessoas que eu tinha chegado e estava viva. Liguei o computador, ativei a internet sem fio e... nada. Ou melhor, mil redes sem fio, todas com senha. Olhei pro lado da mesa de trabalho do apartamento e vi um cabinho dando sopa. Evidentemente, o cabinho não funfa no meu MacBook Air 11" super mega master blaster moderno que não tem entrada pra cabo de rede. Ok. Respira, esse é um país de primeiro mundo, uma dessas redes sem fio aqui deve ser a oficial do edifício, é só ir lá perguntar.

Saí pra ir no supermercado (seguindo as direções do Marko, que já morou aqui), que fica bem pertinho daqui - só duas quadras. Na frente do mercado tem uma loja de comida e uma pizzaria. Ali perto tem também um café e aqui quase na frente tem um bar. Bem legal.

O supermercado foi uma aventura! Gente, como é estranho ler os rótulos das coisas e não fazer idéia do que se trata! Eu andava pelo mercado rindo sozinha, meia hora na frente de cada prateleira tentando calmamente decifrar o que eram os produtos. Comecei pelo pão. Tinha umas mil opções. Peguei um pão fatiado que parecia normal (e é; não é uma delícia, mas é bem normalzinho). Aí fui pros embutidos. Pior ainda! Um monte de nomes compridos e indecifráveis. Peguei uma coisa que parecia presunto e cujo nome ('schouderham') indicava presunto. Claro, podia ser presunto de elefante (vai saber o que é 'schouder'), mas vamos lá. O queijo foi um pouco mais fácil, deu pra entender que era queijo gouda e que tinha jovem, médio e velho. Peguei um jovem pra experimentar.

Depois fui pro leite. Não foi difícil entender qual leite era o integral. Ok. Carnes. Muitos nomes estranhos, mas a boa notícia é que carne de gado não custa os olhos da cara. Pelo menos um guisado e uns hamburgueres deu pra comprar. Peguei também um pacote de couve-flor, cebola, alho e tomate holandês (que aqui, vejam só, é 'tomaten'). Peguei também manteiga, uma massa prodotto italiano, filtro de café, uma garrafa de água mineral, papel higiênico folha dupla (tinha folha simples, dupla e tripla, demorou meia hora mas eu consegui decifrar os rótulos). Peguei também páprica picante, herbes de provence e um chá de limão

Achei que era o suficiente pra carregar pra casa e fui pro caixa. Aqui é como na Itália, a gente paga pelas sacolas de mercado e é a gente mesmo que empacota. Antes de vir pra casa passei no escritório do SSH (meus alugadores) pra ver da internet e não, é só cabo mesmo. Ou seja: tinha que comprar um adaptador USB-ethernet. Ou seja: tinha que descobrir uma loja da Apple. Ou seja: sem internet na primeira noite. Mas consegui usar um computador deles pra mandar e-mails dizendo que estava viva e bem. Menos mal.

Cheguei em casa, guardei as compras, passei uma vassoura no chão, guardei as roupas, organizei toooodas as minhas coisas, depois lavei todos os utensílios de cozinha, esfreguei a pia e tava pronta cozinhar o guisado e fazer uma massa bem gostosa e depois um belo café quando reparei que não tinha comprado sal nem açúcar. Bem esperta! Acabei comendo um pão tostado na torradeira com presunto (era presunto defumado, ufa) e queijo e manteiga. Não foi um banquete, mas tava bom.

Durante todo o tempo em que eu tava fazendo essas coisas fiquei zapeando a tv. Tem vários canais aqui, alguns só têm programação local, outros passam seriados tipo Big Bang Theory, House e How I Met Your Mother. Tá bom, né. Mas os comerciais são, óbvio, todos em holandês, e aí eu fico feito uma idiota tentando repetir e ler o que está escrito pra ver se aprendo alguma coisa. Depois que eu comi meu sanduíche, resolvi aproveitar pra passar as roupas que tavam muito amassadas. Abri a mesa de passar, peguei o ferro e passei tudo assistindo um filme do Richard Gere em que ele é maníaco-depressivo. Era isso ou programa de auditório holandês ou filme do Steven Seagal ou filme do Van Damme. (Aliás, toda noite passa pelo menos um filme de pelo menos um deles em pelo menos um canal. Acho que eles são paixão nacional.)

Tá, passei todas as roupas, guardei tudo, aí fui fechar a mesa de passar. Quem disse que eu consegui? Mexi, virei, forcei prum lado, pro outro, virei de lado, de ponta-cabeça e nada da desgraçada fechar. Meia hora depois, desisti. Deixei ela virada de ponta-cabeça e fui fazer todas as minhas coisas de banheiro caberem na mísera prateleirinha que tem embaixo do espelho do banheiro. Missão quase impossível, mas com paciência consegui. Voltei pra sala/quarto e fui de novo mexer na mesa de passar. Lá pelas tantas pisei numa coisinha e ela pluft!, fechou sozinha. Quase morri de susto, mas pelo menos descobri o jeito de fechar.

Já tava tarde, eu tava cansada e o filme do Richard Gere tinha acabado, então fui tomar o banho dos justos pra depois capotar na cama. O chuveiro é bem tipicamente europeu, mas é bem bom. O único problema é que no banheiro não tem espaço pra pendurar ou largar as roupas e a toalha de banho, mas vou comprar uns ganchos com ventosas pra resolver esse problema. Tomei um banho bem quentinho e quando saí resolvi decifrar os aquecedores, porque o quarto tava gelado. Demorou um tempinho, mas achei o jeito e logo o quarto tava bem quentinho e aconchegante. 

Nisso já era meia-noite e resolvi fazer um chá e ver um pouco de tv deitada na cama. Fiz o chá que era pra ser de limão e descobri que era chá preto com limão. Além de não gostar de chá preto, a quantidade de cafeína ia me deixar mais acesa do que eu já estava, então acabei jogando tudo fora. Virei a caixinha do avesso e não achei nenhum lugar dizendo que era chá preto, só dizia "cítrico". Vou ter que revirar melhor as prateleiras do mercado na próxima vez! 


Assisti um episódio de Cheers! (bah, que saudade dessa série!) e depois o finalzinho de Mudança de Hábito 2. Depois fui mudando de canal e vocês não imaginam: descobri que de madrugada passa anúncios de prostitutas! Assim, aparece a "moça" em trajes menores, o número do telefone na tela e elas ficam falando. Como é em holandês não tenho certeza, mas acho que elas listam suas qualidades e o que fazem ou deixam de fazer com os clientes. Vai saber. Só sei que vi isso em mais de um canal e achei hilário! Qualquer hora dessas filmo com a câmera e posto aqui pra vocês verem. 

Eu, é claro, tava morta, mas quem disse que consegui dormir cedo? Duas da manhã (onze da noite no Brasil) e eu tava rolando na cama ainda. O dia seguinte, meu primeiro dia me aventurando no centro da cidade, eu conto no próximo post.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Chegando em Utrecht

A viagem começou na quarta, 02 de fevereiro, feriado de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre e aniversário de 31 anos de casamento dos meus pais. Saímos de casa às 10:30, fiz o check-in na Gol e fomos almoçar num buffet do aeroporto. Claro que como a minha mãe tinha fritado bifes pra mim (!) às nove e meia da manhã eu tava sem um pingo de fome, mas comi um pouquinho pra não viajar de estômago vazio. Por volta da uma eu me despedi dos meus pais e fui pra sala de embarque.

O vôo saiu com um pouquinho de atraso, mas às três eu já estava em Guarulhos. Na chegada, uma turbulência de assustar até os mais valentes, com direito a raios estourando do lado da aeronave e tudo. Acho que só peguei uma turbulência daquelas no vôo São Paulo - Rio, no dia em que fui pra Maryland. Coincidência?

Como as minhas malas foram despachadas direto de Porto Alegre pra Amsterdam (contra a minha vontade), desembarquei e fui direto pro saguão do aeroporto. Depois fiquei pensando que foi mancada, que eu devia ter ficado nas esteiras esperando pra ver se não desembarcavam minhas malas por engano, especialmente porque o vôo, que originalmente era pra acabar ali, na última hora mudou e ia até João Pessoa (ou Recife, algo assim). Bah, levei medo. 

Depois de uns cinco minutos tentando ver as malas através dos vidros da área de desembarque, pensei que era melhor esquecer o assunto e falar pro pessoal aqui em Amsterdam procurar minhas malas no nordeste brasileiro, caso elas não chegassem até aqui. Tomada essa importante decisão, fui fazer coisas mais importantes: registrar meus eletrônicos na Polícia Federal e procurar uma internet grátis dando sopa pelo aeroporto. 

Não tive sucesso em nenhuma das duas. Fui seca no cantinho da polícia, lááá no finalzinho do aeroporto, e dei com os burros n'água, ou melhor, no Ministério da Agricultura. Tudo bem que o meu computador é Apple, mas daí a registrar no Ministério da Agricultura já era um pouco demais, né? Fui até o balcão de informações mais próximo perguntar e a moça me falou que a polícia não registra mais nada. Agora é assim: se te pararem na alfândega, tem que ter as notas fiscais dos produtos pra provar que saíram contigo do Brasil. Ainda bem que comigo seguro morreu de velho e eu sempre carrego as notas fiscais comigo nesse tipo de viagem. Seria muito azar ter passado incólume pela alfândega na volta dos States e ficar engatada quando voltar daqui por causa dos produtos comprados lá

Ãnfãn, depois disso começou a odisséia em busca de internet. Eu devia estar parecendo uma louca: sentava em cada uma das áreas com cadeiras do aeroporto, abria a mochila, puxava o iPad e tentava a sorte. Nada. Atravessei o aeroporto inteiro. Não rolou. Aí fui me informar sobre a tal internet do Speedy. R$9,90 por duas horas corridas, R$ 19,90 por 24 horas. Achei caro. Me dei conta que já era mais de quatro da tarde e fui catar um orelhão pra ligar em casa e avisar que tinha chegado bem e que não, não tinha internet free pra gente se comunicar. 

Depois fui tomar um café com croissant no meu café favorito do aeroporto e resolvi comprar duas horas de internet. Aí precisava de tomada, e as tomadas disponíveis estavam numas áreas novas construídas nas duas extremidades do aeroporto, nas quais o sinal de internet era inexistente. Como o tempo de internet era em horas corridas e não por tempo de uso, lá pelas tantas desisti de ficar batendo cabeça e resolvi ir logo pra sala de embarque, porque lá dentro tem um milhão de tomadas e provavelmente o sinal seria melhor. (Parênteses: agora me digam de que adianta colocar as torres com mil tomadas numa área do aeroporto em que o sinal de internet não chega direito!)

Ainda bem que resolvi fazer isso: a fila pra passar na imigração tava insana! Tinha umas mil pessoas lá pra dentro, todas amontoadas sem saber onde começava e terminava cada fila. E os funcionários, é claro, sabiam menos que a gente. Tinha um japinha tri perdido indo na fila dos brasileiros, falei pra ele que era na outra fila e ele ficou me agradecendo um monte, fazendo aquelas reverências que eles fazem. Quando finalmente consegui por os pés na sala de embarque e encontrar uma tomada dando sopa, só deu tempo de entrar dois minutos na internet pra dizer tchau e já tive que sair correndo porque começaram a chamar pro embarque. Eu queria comprar água e um lanchinho e ir ao banheiro antes de embarcar. Acabei priorizando e só comprei a água e fui no banheiro.

O avião da KLM é lindo e muito inteligente. Normalmente nós, pobres da classe econômica, entramos e passamos pela classe executiva, que é a primeira a embarcar, batendo nos ricos com as nossas malas e mochilas. No avião deles isso não acontece porque a porta é mais no meio do avião, então a gente entra e só tem classe econômica, os chiques é pro outro lado. Achei bem legal e fiquei sonhando com o dia em que vou viajar de classe executiva. 

Achei minha poltrona, guardei minha malinha e logo conheci meu vizinho, um brasileiro que mora na Noruega. Ele me falou que quando fez o check-in a poltrona do meio tava vazia, e aí ficamos torcendo pra não chegar ninguém e a gente ter um pouco mais de espaço. De fato, o avião ficou semi-vazio, ninguém sentou no meio e deu pra viajar com um pouco mais de comodidade. Ainda assim, a partida atrasou quase uma hora porque alguns passageiros se atrasaram. Saímos às dez pras dez.

Agora vem o momento "por que eu amo a KLM":

1) Tevezinhas individuais com controles individuais e programação individual. Normalmente os aviões têm uma tevezona enorme lá na frente que é impossível de ver e fica passando uns filmes toscos e a gente pluga o fone e seleciona o áudio (dublado, legendado...). Na Continental tinha tevezinha individual mas a programação era fixa e cada canal se repetia a cada duas horas. Quer dizer, nada de pause pra ir no banheiro. Na KLM tem uma seleção de filmes, séries, telejornais, documentários, programas de esporte, etc. e a gente escolhe o que quer assistir. Tinha tanto filme bom que demorei quase meia hora pra escolher e acabei pegando no sono na metade. Mas achei legal, especialmente pra quem não dorme em avião (definitivamente não é o meu caso).

2) A comida não tem gosto de comida de avião. A janta foi: uma salada de alface, pepino e tomate com tempero de pimentão e salsa muito deliciosa, mais frango com molho de açafrão, arroz e legumes no vapor - e os legumes não tavam se desmanchando. Ainda deram um pãozinho, manteiga, e a sobremesa era um bolo com cobertura de calda de maracujá (eu não comi). O café da manhã foi uma omelete com bacon, mamão e melão picado, um iogurte de morango da Batavo (que é o meu preferido) e um bolinho inglês. Tudo bem gostoso.

3) O serviço é ótimo. Logo que decolou passaram oferecendo uma rodada de bebidas e um pacotinho de amêndoas salgadas com casca. Eu fiquei bem cabreira achando que a KLM era a sucursal internacional da Gol e que não ia ter janta (pobre é dose hehehe). Que nada! Daqui a pouco passaram tirando uma coisa de uma caixinha, até achei que fossem formulários de imigração, mas era uma toalha úmida e quente pra higienizar as mãos. Chiquérrimo! Aí veio a janta com mais bebidas, e depois ofereceram café e chá. Aí eu apaguei no meio do filme, acordei de leve quatromilenovecentas vezes durante o vôo pra mexer os membros que ficam formigando, mas só acordei acordei mesmo quando a moça tava esticando a caixinha do café da manhã pro cara do meu lado. Pobre é dose, acorda só com o cheiro da comida hahaha.

Pronto, acabou o momento "por que eu amo a KLM". Logo depois do café chegamos ao aeroporto de Schiphol (que se diz 'skípol'). Na saída do aeroporto, conferência de passaportes e um cão farejador ainda no finger de desembarque. Confesso que me senti meio intimidada. Depois a imigração, que foi ridícula, o cara nem me disse bom dia, nem sorriu, e quase que nem carimba meu passaporte. Não falou nada, não perguntou onde eu tava indo, nada nada nada. Menos mal.

Peguei as malas e saí. O Marko, orientando do Norbert, já tava me esperando. Compramos o bilhete do trem e descemos de elevador até a plataforma. Os trens aqui têm dois andares e andam tão macio que nem parece trem. No caminho vi muitos fiordes, ovelhas e um moinho. Só falta ver uma vaca leiteira e um tamanco de madeira pra completar a lista de estereótipos holandeses hehehe.

A viagem até a estação central de Utrecht demora mais ou menos uns 35 minutos. Na estação central, comprei um ov-chipkaart (equivalente do Bilhete Único, do TRI, do Passe Rápido, etc) pra entrar no ônibus. Almoçamos no Burger King (minha primeira refeição tipicamente holandesa, rá!) e descemos pra pegar o ônibus. Até que foi fácil gerenciar as malas pra cá e pra lá, só foi ruim descer a escada até a plataforma do ônibus. O ônibus passou pelo centro histórico e eu, claro, fiquei babando. É tudo lindo e maravilhoso, afinal estamos na Europa e as mulheres não usam aquelas botas que parecem um pé de urso. Todo mundo é elegante. E aqui tem C&A! Se eu precisar comprar roupas já sei onde ir hahahaha.

Uns vinte minutos de ônibus e chegamos em De Uithof, que é o campus em que eu moro. Fui no escritório dos caras que alugam apartamentos a preços abusivos, assinei o contrato, paguei o primeiro mês de aluguel, peguei a chave e vim. É uma quadra só de distância e o Marko me ajudou com as malas.

Uma curiosidade sobre o sistema de numeração predial por aqui: os prédios às vezes não têm número. Quando eu vi meu endereço, achei que era o número do prédio e que o apartamento eu ficaria sabendo aqui. Mas não é assim! Meu endereço é o nome da rua e o número do apartamento, e por fora do prédio diz Cambridgelaan (nome da rua) cento-e-tanto a trezentos-e-tanto (números dos apartamentos). Eu achei bizarro! Mas tudo bem, minha lógica de que 302 devia ser no terceiro andar furou completamente e eu estou no décimo oitavo (e último) andar do prédio. Ainda bem que o Sr. Anônimo não veio junto, porque ele aqui ia morrer: as janelas são do tamanho da parede. Quem tem medo de altura tá lascado.

O apartamento tem tudo: fogão 4 bocas elétrico, mini-geladeira espaçosa, pia, secador de louça, louças de todos os tipos, talheres idem, cafeteira, chaleira elétrica, torradeira, panelas, mini freezer também bem espaçoso, microondas com grill, tv 19" flat screen com o melhor da programação local, prateleira pra livros, guarda-roupa duas portas com prateleira e cabides, cama de solteiro, mesa de cabeceira, mesa de centro, poltrona com luminária, mesa de trabalho com cadeira confortável e luminária, mesa de refeições com 4 cadeiras, secador de chão, vassoura, mop úmido, aspirador de pó, ferro de passar com tábua, água quente em todas as torneiras, e no banheiro tem lavadora e secadora de roupas. Bem bom.

Vou encerrar esse post por aqui porque eu tou morta de cansaço e preciso dormir. Amanhã eu conto pra vocês da minha primeira experiência no mercado, da programação televisiva local e da minha luta com a tábua de passar. Inté!