Pra compensar a pasmaceira (e a bunda quadrada de tanto trabalhar) de quarta e quinta, as coisas hoje foram bem movimentadas.
Pra ser bem sincera, eu nem tava a fim de ir pra universidade. Tava aquela chuvinha fina que quase nem é chuva, é uma água pairando constantemente sobre as nossas cabeças, molhando nossas roupas, calçados e calçadas. Mas aí pensei que eu já não tinha ido dois dias... Na quarta não fui por causa da enxaqueca; e ontem não fui porque tinha tanta neblina que não dava pra enxergar um palmo na frente do nariz o dia inteirinho. Me senti um personagem de "Ensaio sobre a cegueira". Pros que não acreditam:
Enfim, encarei a elevadíssima umidade relativa (e absoluta) do ar e fui. Tinha reservado uns livros na biblioteca, então como vi que o ônibus ia demorar 10 minutos pra chegar, resolvi passar lá antes. Só que eu tinha esquecido que tinha reservado quatro livros, e aí tive que carregar tudo pra universidade. Azar, fi-lo. Cheguei no ponto e logo o ônibus veio.
Aliás, acho que isso eu não comentei: em todas as paradas de ônibus tem um painel eletrônico indicando quais são os próximos ônibus e quanto falta. Até hoje só vi eles chegarem um pouco adiantados, mas nunca vi atrasar. É impressionante. Também é impressionante que o Brasil seja o único país em que as paradas não são identificadas por nomes e/ou números e em que os ônibus não têm sistema de som e letreiro indicando qual é a próxima parada. Mas temos o pré-sal, que é muito melhor que isso, não é mesmo?
Desci do ônibus e apesar do peso na bolsa resolvi entrar na livraria e comprar meu dicionário. (Esse ímpeto foi motivado pelo e-mail que eu recebi ontem da funcionária da universidade pedindo mil desculpas pela demora na liberação dos meus euros queridos e jurando que semana que vem se resolve.) Pois bem. Entrei e pedi pra ver dicionários inglês-holandês, italiano-holandês ou português-holandês. A senhora que me atendeu, muito mas muito educada mesmo, me mostrou alguns, a maioria enormes e só de uma língua pra outra (sem o vice-versa). Acabei escolhendo esses dois volumes, que têm um tamanho bom e são bem completinhos:
Cada volume era €9,99, logo, o combo saiu por €19,98. Achei bem razoável considerando que o único que eu vi no Brasil com preço razoável era um volume só, grande, nada portátil, por R$110. A moça colocou os dois num saco de papelão, daí viu que eu tava em apuros pra carregar minha bolsa e me ofereceu uma sacola de plástico. Foi a minha salvação, na hora de voltar pra casa botei vários livros na sacola hehehe.
Cheguei na universidade, bati um papo com o porteiro da manhã, peguei a chave-mestra, mais umas pastinhas e um bloco (mais coisas pra carregar, mas eu tava precisando) e fui dar um oi pro Norbert e pedir pra ele me ajudar a pagar meu aluguel. Cara-de-pau, eu sei, mas tem que estar pago até dia 1 e só tenho duas formas de pagar: no escritório da SSH com cartão de crédito (que é pago pelo meu pai) ou transferência bancária (que precisa de uma conta em banco, coisa que eu não tenho). Aí pedi pra ele fazer a transferência pra mim que eu dou o dinheiro pra ele. Morri de vergonha, mas expliquei o motivo e ele topou na boa. Menos mal.
Sentei pra trabalhar e a Emilienne me convidou pra assistir uma defesa. Era de fonologia e não me pilhei muito pra ir, mas ela me convenceu que era legal ir pelo social (e também porque só dura uma hora). Fui.
As defesas acontecem no prédio principal da universidade, que é bem do lado do Dom e fica colado no nosso prédio. Foi lá que eu almocei com o Norbert no dia em que comi croquetes. A sala é cheia de pompa e circunstância e tem fotos do que eu acredito serem todos os reitores que a universidade já teve. Como a universidade é superantiga, obviamente tem fotos de reitores de peruca branca comprida (que nem as imagens do Bach).
Eu já sabia como eram as defesas aqui na Holanda porque elas são folclóricas (e todo mundo tem inveja). Vou explicar por quê:
- a defesa dura só uma hora;
- tem um monte de professores na banca, talvez mais de dez;
- alguns professores da banca são autoridades, não são da área de especialidade do candidato;
- cada professor tem direito a apenas uma pergunta;
- todos os professores usam togas e chapeuzinhos com formatos diferentes (imagino que cada chapeuzinho simbolize o ranking da pessoa);
- antes de a banca entrar, entra um bedel, também paramentado, com um cajado de metal. Ele bate o cajado no chão, todo mundo levanta e a banca entra e a defesa começa;
- passados 40 minutos de perguntas da banca, o bedel entra de novo, bate o cajado no chão e a conversa tem que encerrar. Não importa se tem alguém falando, tem que parar imediatamente (olha que maravilha!!);
- todo mundo levanta, a banca sai e delibera;
- a banca volta, o candidato e os seus dois paraninfos se apresentam diante da banca e um membro lê um documento de três páginas, aparentemente bem-humorado (porque todo mundo riu), em holandês (logo, eu não ri);
- todo mundo bate palmas e aí acabou.
Ou melhor, não acabou. Vai todo mundo pruma outra sala onde tem uma recepção. O candidato se posiciona no fundo da sala, com um paraninfo de cada lado, a banca entra, cumprimenta o candidato e vai comer e beber. Enquanto isso, forma-se uma fila pra cumprimentar o doutor. Todo mundo cumprimenta o doutor antes de comer/beber. Como eu tava com a Emilienne, acabei cumprimentando o cara (que nunca me viu mais gorda). Depois voltei pro escritório porque achei estranho ficar fazendo social na festa do cara que eu nem conheço (não teria cerimônias pra fazer isso no Brasil, afinal já participei de todos os coffee-breaks de um congresso que nem era no meu prédio sem efetivamente participar do congresso, mas aqui a coisa é mais formal e o povo repara).
Já eram quatro da tarde e eu não ia mais trabalhar mesmo. Resolvi sair à cata das lojas de celular pra comprar um chip. Olhei direitinho no mapa, deixei minhas coisas no escritório e fui, munida de chipknip de 20 euro, 15 euro em dinheiro, chave do escritório, cartão de acesso da universidade, passaporte, mapa e celular. Dei dois passos fora do escritório e dois caras vieram me pedir informação: "onde tem um pub legal por aqui?". Expliquei que cheguei há pouco tempo e não tinha como dar essa informação, eles agradeceram e seguiram o rumo deles.
Eu achei tudo incrível. Já tinha feito aquele mesmo caminho no dia em que fui na loja da Apple com o Norbert, mas tava de noite e não deu pra ver muita coisa. Hoje tava de dia e as ruas tavam bombando, tinha muita gente passeando, comprando, andando. Vi restaurantes. E lojas. Lojas, muitas lojas de tudo quanto é coisa legal: roupas, calçados maravilhosos por preços bem acessíveis, bolsas, acessórios, coisas pra casa, enfim, muita coisa legal. Minha nossa senhora da bolsa em euros, faz a minha bolsa sair logo pra eu poder pelo menos sonhar em comprar uma das mil botas lindas que eu vi nas vitrines? Amém.
Caminhei um bom tantinho até chegar nas lojas. Ah, e no caminho vi duas coisas de interesse público: batata-frita enrolada num papel em forma de cone com maionese por cima (prato típico da culinária holandesa - sério!) e tamancos de madeira. Viu, mãe? Já sei onde comprar!
Entrei na Vodafone e fechei negócio. Comprei um chip pré-pago com €5 de crédito por €7,50 (mais €5 de bônus cadastrando o celular na internet, coisa que eu fiz assim que cheguei em casa). Na verdade eu queria comprar €20 de crédito, mas a máquina de chipknip deles tava quebrada e não deu. Vou ter que comprar outra hora. O bom é que dá pra comprar crédito em qualquer lugar, e a cada €20 de crédito a gente pode pedir bônus de mensagens ou ligações grátis. Bem tri.
Na volta pra universidade, duas gurias me pararam pra... pedir informações! Gente, que mico, nos Estados Unidos toda hora me pediam informações, e não só em College Park e D.C.. E agora aqui também! Será que eu tenho uma cara tão comum que pareço nativa em qualquer lugar? Será que eu pareço sempre tão bem entrosada à cultura local? Será que eu tenho cara de confiável? Não entendo. Só sei que é sempre assim. Tudo bem que eu me adapto fácil mesmo, já morei em 4 países (contando o Brasil), visitei um além desses (e me pediram informação lá também), já morei em 3 capitais brasileiras e realmente não sou do tipo que custa a se adaptar/não se adapta/chora de saudade. Mas daí a ficarem sempre me pedindo informação já é demais... rs.
Chegando em casa, tomei um semipau pra cadastrar o número na página em holandês, mas meu dicionário ajudou bastante e consegui. As mensagens que eles me mandam também são em holandês. Configurei a caixa postal e quando a gente liga a gravação fala meia hora em holandês, mas depois te dá a opção de mudar pra inglês e aí a vida fica bem mais fácil. Tou com dificuldade de receber mensagens (ou meus compatriotas tão com dificuldades de mandar), mas já recebi uma diretamente dos EUA, o que significa que o celular funciona pra mandar e receber mensagens. As funções do tipo msn acho que não vão funcionar porque né, aqui não é Estados Unidos e as companhias de celular ainda não chegaram tão longe no serviço. Mas uma mensagem pros EUA custa €0,29, bem pagável. Ligar pro exterior tá fora de cogitação a menos que aconteça uma coisa muito muito grave ou eu fique milionária, mas pelo menos posso avisar as pessoas de que estou viva usando o celular. Elas é que vão ter que aprender a me responder hehehehe. Mas já vi na internet como é, tem um zero na frente dos números de celular que tem que deixar de fora quando manda mensagem ou liga do exterior (sim, também tou me perguntando pra que que serve o zero se na hora de ligar a gente não usa, mas deixa quieto).
Agora, se me dão licença eu vou cair na cama e rezar pra amanhã fazer um dia razoável. Tou louca pra ir passear no centro!