Pois bem. Na sexta-feira da semana passada, dia 04, fui pela primeira vez pra universidade. Eu sabia o ônibus que eu devia pegar, o ponto em que devia descer e tinha um mapa no qual eu desenhei o trajeto do ponto de ônibus até a universidade. Logo, foi uma barbada. Daqui até a universidade são uns 15 minutos de ônibus (quando muito) e uma caminhadinha de uns 7 minutos. Bem perto pros padrões brasileiros, mas uma distância absurda pros padrões holandeses, segundo me disseram. Tipo, eu estou morando no fim do mundo. Tudo bem que aqui tem patos, corvos e ovelhinhas, mas pô, vamos combinar que daí a ser o fim do mundo tem uma leve diferença. Enfim.
No caminho entre o ponto de ônibus e o prédio tem:
. pelo menos três cafés muito charmosos;
. uma loja de esquina, enorme, de partituras (inclusive na vitrine tem algumas partituras que eu tenho);
. uma loja de vitrolas e equipamentos hi-fi;
. um sebo;
. uma livraria;
. uma loja de objetos de arte;
. uma loja de discos;
. o duomo da cidade (cuja torre é a construção mais alta do país).
E é por isso que eu digo que ficar deprimido na Europa é infinitamente melhor do que ficar deprimido no Brasil.
Cheguei no prédio e fui perguntar pro porteiro onde era a sala da secretaria. Só que eu tinha a informação de que era na sala 0.13, que não existe naquele prédio. Ele olhou, olhou, pensou, eu falei em departamento de lingüística e ele fez cara de pastel, aí ele perguntou com quem eu queria falar e eu disse (do meu jeito, é claro) o nome da secretária. Aí ele riu, exclamou "oh!" e disse o nome dela com a pronúncia correta. E me fez repetir até sair certo. Daí me disse que era na sala 0.31, não 0.13, e me levou até lá. No caminho ele me disse que a Mariëtte (a secretária) era uma baixinha grisalha de óculos com cara feia, mas que era gente boa. E eu deduzi que ele era um gaiato, o que de fato tem se confirmado.
Na verdade o prédio é um complexo de prédios. A entrada principal é pelo Trans 10 (Trans é o nome da rua), mas a secretaria fica no Trans 6 e meu escritório fica no Trans 4. O caminho por dentro dos prédios não é exatamente "por dentro", a gente sai e caminha por um pátio interno bem bonito. Depois o Norbert me explicou que esses prédios foram reformados há pouco porque não havia nenhuma comunicação interna entre eles. Agora tem corredores por dentro e não precisa necessariamente sair pro pátio pra ir de um prédio a outro. Mas as pessoas acabam saindo porque é mais fácil (os prédios são bem labirínticos por dentro).
Enfim, cheguei lá e perguntei se era o departamento de lingüística, ela perguntou com quem eu queria falar, falei que estava procurando o Norbert e ela me disse pra procurar na sala dele. Aí falei que eu era a aluna que tava vindo do Brasil e ela saltou da cadeira, gritou "Simioni!", veio me cumprimentar e fez a maior festa pra mim, daí já veio a outra secretária (a Yvonne, que também trocou e-mails comigo) lá de dentro fazendo a maior festa também, e aí o porteiro foi de volta pra portaria e eu fiquei ali vendo o que elas tinham pra me dizer. Me entregaram um bolinho de folhas com informações sobre tudo, desde como pegar a chave do escritório até como imprimir e informações sobre o grupo de alunos estrangeiros da universidade. A Yvonne foi comigo até o escritório me mostrar onde era (sala 0.45) e lá já tinha uma mesa com um computador e um ramal de telefone só pra mim. Meus dois colegas de escritório também já sabiam quem eu era e de onde eu vinha. Fiquei me achando. A Yvonne me ensinou a iniciar o sistema e me passou os dados de usuário convidado, porque a minha Solis-ID (basicamente, a minha identificação no sistema) ainda não tinha sido emitida.
Enquanto não chegava a hora de falar com o Norbert, usei a internet pra mandar e-mails e pra procurar uma loja da Apple nas redondezas. Depois fui lá falar com o porteiro - que, segundo a Mariëtte, é um negrão grandão (e ele é mesmo) mas não é perigoso (!). Sinceramente, não sei o que concluir disso, mas tudo bem. Lá fui eu de novo falar com ele pra pedir a chave do escritório. Ele não fala muito inglês e eu não falo nada de holandês, mas a gente se entendeu. Na verdade o pessoal da lingüística se mudou pra esse prédio há pouco tempo, e a reforma do prédio também é recente, então tinha caixas e caixas de chaves desorganizadas e a gente ficou brincando de procurar a chave da 0.45. Não tinha. Aí ele viu lá nos registros que cada sala tem 3 chaves, e as 3 da minha sala já estavam com outras pessoas, então tem que mandar fazer uma chave pra mim. Como vai demorar uns 10, 15 dias pra ficar pronta, ele me falou pra pedir a chave-mestra, que em holandês chama loper. Aí ele anotou pra mim num post-it como é que se pede a chave-mestra em holandês. Acho que vou contratar ele pra me dar umas aulas hehehe.
Bom, aí já era hora de conhecer meu novo Norbert. Fui catar a sala 1.54 e aí captei como funciona a numeração: 0 é térreo, 1 é primeiro andar e 2 é segundo andar. Yay! É bom que a sala dele é no mesmo prédio que a minha também, então fica fácil de achar. Eu tava me mijando queria passar no banheiro antes de ir. Fui olhar e tinha duas portas: uma dizia toilet e a outra dizia toileten. Eu sei que -en é sufixo de plural, mas como não sei se holandês é uma língua que marca Caso, fiquei pensando se -en também não podia ser um prefixo de Caso e se a diferença entre toilet e toileten é que um é masculino e o outro é feminino.
(Parênteses: nessas horas eu odeio ser lingüista. Me digam vocês, amigos não-lingüistas que acompanham esse blog, se vocês, estando a ponto de mijar nas calças, ficariam conjecturando se -en é marcador de Caso ou simplesmente entrariam numa das portas e seja o que deus quiser. Pois é. Achei mesmo que não. Fecha parênteses.)
Bom, no fim das contas escolhi uma das portas (lembrei da porta dos desesperados agora: "é a porta número um? é a porta número dois?") e aí entendi: o que diz toilet é um banheiro só: a gente entra e tem a pia e o vaso. O que diz toileten são dois: uma portinha pros homens e uma pras mulheres, e a pia é coletiva. Ou seja: -en é marcador de plural mesmo e deu pra bola.
Devidamente aliviada, fui procurar minha turma o Norbert. Ele tava em reunião e me pediu pra esperar na minha sala que ele me buscava quando acabasse. Obedeci. Fiquei desenhando no mapa o caminho até a Apple Store e tentando pronunciar os nomes das ruas (sério, eu devo parecer maluca quando faço isso, mas é que eu quero aprender!). Logo ele desceu pra me buscar e aí fomos pro escritório dele. Ficamos umas duas horas batendo papo, falando da minha tese e de outros assuntos daqui. Ele também me apresentou pra uma professora e mencionou vários outros que eu devia conhecer. Marcamos outro encontro pra segunda e na hora de ir embora ele se ofereceu pra me acompanhar até o ponto. Aí eu falei que queria ir numa loja que era pro outro lado e mostrei pra ele no mapa. Ele na hora falou: "ah, tu precisa da Apple Store! é no meu caminho, vem que eu te acompanho".
Gente, a Apple Store fica no centro histórico (a universidade também, mas a Apple é bem no meião). Já tava meio escuro e tal, mas eu fiquei deslumbrada. Imediatamente lembrei de Siena. Entrei na Apple Store e felizmente tinha o adaptador que eu precisava. Comprei, paguei e saí. Eu tinha planejado voltar até a universidade, mas o Norbert falou que dali tinha um caminho mais perto pra chegar no ponto de ônibus. Olhei no mapa e fui. Claro, não queria dar pinta de turista, então me recusei a ficar abrindo o mapa toda hora. Evidentemente chegou um momento em que eu não sabia mais se tava indo pro lado certo ou não, mas como eu sou brasileira e não desisto nunca (e tenho um ótimo senso de direção) continuei andando e eventualmente cheguei onde tinha que chegar. No caminho eu fiquei com vontade de jogar fora todas as minhas roupas e sapatos, porque né, as vitrines são de babar. Nessas horas morar na Europa é uma merda, mas abafa o caso.
Cheguei aqui e passei no mercado pra comprar açúcar (meia hora olhando as embalagens e quase que eu compro açúcar de confeiteiro), sal e mais umas coisas que precisava. Comprei um pacote de biscoito e um torrone e os dois eram horríveis! O biscoito ainda tudo bem, custou 0,99. Mas o torrone era dois euro. Quero meu dinheiro de volta!
No primeiro final de semana eu fiquei em casa, porque é claro que eu fiquei resfriada. Imagina se eu não tivesse tomado vitamina C!
Nenhum comentário:
Postar um comentário