sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Chegando em Utrecht

A viagem começou na quarta, 02 de fevereiro, feriado de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre e aniversário de 31 anos de casamento dos meus pais. Saímos de casa às 10:30, fiz o check-in na Gol e fomos almoçar num buffet do aeroporto. Claro que como a minha mãe tinha fritado bifes pra mim (!) às nove e meia da manhã eu tava sem um pingo de fome, mas comi um pouquinho pra não viajar de estômago vazio. Por volta da uma eu me despedi dos meus pais e fui pra sala de embarque.

O vôo saiu com um pouquinho de atraso, mas às três eu já estava em Guarulhos. Na chegada, uma turbulência de assustar até os mais valentes, com direito a raios estourando do lado da aeronave e tudo. Acho que só peguei uma turbulência daquelas no vôo São Paulo - Rio, no dia em que fui pra Maryland. Coincidência?

Como as minhas malas foram despachadas direto de Porto Alegre pra Amsterdam (contra a minha vontade), desembarquei e fui direto pro saguão do aeroporto. Depois fiquei pensando que foi mancada, que eu devia ter ficado nas esteiras esperando pra ver se não desembarcavam minhas malas por engano, especialmente porque o vôo, que originalmente era pra acabar ali, na última hora mudou e ia até João Pessoa (ou Recife, algo assim). Bah, levei medo. 

Depois de uns cinco minutos tentando ver as malas através dos vidros da área de desembarque, pensei que era melhor esquecer o assunto e falar pro pessoal aqui em Amsterdam procurar minhas malas no nordeste brasileiro, caso elas não chegassem até aqui. Tomada essa importante decisão, fui fazer coisas mais importantes: registrar meus eletrônicos na Polícia Federal e procurar uma internet grátis dando sopa pelo aeroporto. 

Não tive sucesso em nenhuma das duas. Fui seca no cantinho da polícia, lááá no finalzinho do aeroporto, e dei com os burros n'água, ou melhor, no Ministério da Agricultura. Tudo bem que o meu computador é Apple, mas daí a registrar no Ministério da Agricultura já era um pouco demais, né? Fui até o balcão de informações mais próximo perguntar e a moça me falou que a polícia não registra mais nada. Agora é assim: se te pararem na alfândega, tem que ter as notas fiscais dos produtos pra provar que saíram contigo do Brasil. Ainda bem que comigo seguro morreu de velho e eu sempre carrego as notas fiscais comigo nesse tipo de viagem. Seria muito azar ter passado incólume pela alfândega na volta dos States e ficar engatada quando voltar daqui por causa dos produtos comprados lá

Ãnfãn, depois disso começou a odisséia em busca de internet. Eu devia estar parecendo uma louca: sentava em cada uma das áreas com cadeiras do aeroporto, abria a mochila, puxava o iPad e tentava a sorte. Nada. Atravessei o aeroporto inteiro. Não rolou. Aí fui me informar sobre a tal internet do Speedy. R$9,90 por duas horas corridas, R$ 19,90 por 24 horas. Achei caro. Me dei conta que já era mais de quatro da tarde e fui catar um orelhão pra ligar em casa e avisar que tinha chegado bem e que não, não tinha internet free pra gente se comunicar. 

Depois fui tomar um café com croissant no meu café favorito do aeroporto e resolvi comprar duas horas de internet. Aí precisava de tomada, e as tomadas disponíveis estavam numas áreas novas construídas nas duas extremidades do aeroporto, nas quais o sinal de internet era inexistente. Como o tempo de internet era em horas corridas e não por tempo de uso, lá pelas tantas desisti de ficar batendo cabeça e resolvi ir logo pra sala de embarque, porque lá dentro tem um milhão de tomadas e provavelmente o sinal seria melhor. (Parênteses: agora me digam de que adianta colocar as torres com mil tomadas numa área do aeroporto em que o sinal de internet não chega direito!)

Ainda bem que resolvi fazer isso: a fila pra passar na imigração tava insana! Tinha umas mil pessoas lá pra dentro, todas amontoadas sem saber onde começava e terminava cada fila. E os funcionários, é claro, sabiam menos que a gente. Tinha um japinha tri perdido indo na fila dos brasileiros, falei pra ele que era na outra fila e ele ficou me agradecendo um monte, fazendo aquelas reverências que eles fazem. Quando finalmente consegui por os pés na sala de embarque e encontrar uma tomada dando sopa, só deu tempo de entrar dois minutos na internet pra dizer tchau e já tive que sair correndo porque começaram a chamar pro embarque. Eu queria comprar água e um lanchinho e ir ao banheiro antes de embarcar. Acabei priorizando e só comprei a água e fui no banheiro.

O avião da KLM é lindo e muito inteligente. Normalmente nós, pobres da classe econômica, entramos e passamos pela classe executiva, que é a primeira a embarcar, batendo nos ricos com as nossas malas e mochilas. No avião deles isso não acontece porque a porta é mais no meio do avião, então a gente entra e só tem classe econômica, os chiques é pro outro lado. Achei bem legal e fiquei sonhando com o dia em que vou viajar de classe executiva. 

Achei minha poltrona, guardei minha malinha e logo conheci meu vizinho, um brasileiro que mora na Noruega. Ele me falou que quando fez o check-in a poltrona do meio tava vazia, e aí ficamos torcendo pra não chegar ninguém e a gente ter um pouco mais de espaço. De fato, o avião ficou semi-vazio, ninguém sentou no meio e deu pra viajar com um pouco mais de comodidade. Ainda assim, a partida atrasou quase uma hora porque alguns passageiros se atrasaram. Saímos às dez pras dez.

Agora vem o momento "por que eu amo a KLM":

1) Tevezinhas individuais com controles individuais e programação individual. Normalmente os aviões têm uma tevezona enorme lá na frente que é impossível de ver e fica passando uns filmes toscos e a gente pluga o fone e seleciona o áudio (dublado, legendado...). Na Continental tinha tevezinha individual mas a programação era fixa e cada canal se repetia a cada duas horas. Quer dizer, nada de pause pra ir no banheiro. Na KLM tem uma seleção de filmes, séries, telejornais, documentários, programas de esporte, etc. e a gente escolhe o que quer assistir. Tinha tanto filme bom que demorei quase meia hora pra escolher e acabei pegando no sono na metade. Mas achei legal, especialmente pra quem não dorme em avião (definitivamente não é o meu caso).

2) A comida não tem gosto de comida de avião. A janta foi: uma salada de alface, pepino e tomate com tempero de pimentão e salsa muito deliciosa, mais frango com molho de açafrão, arroz e legumes no vapor - e os legumes não tavam se desmanchando. Ainda deram um pãozinho, manteiga, e a sobremesa era um bolo com cobertura de calda de maracujá (eu não comi). O café da manhã foi uma omelete com bacon, mamão e melão picado, um iogurte de morango da Batavo (que é o meu preferido) e um bolinho inglês. Tudo bem gostoso.

3) O serviço é ótimo. Logo que decolou passaram oferecendo uma rodada de bebidas e um pacotinho de amêndoas salgadas com casca. Eu fiquei bem cabreira achando que a KLM era a sucursal internacional da Gol e que não ia ter janta (pobre é dose hehehe). Que nada! Daqui a pouco passaram tirando uma coisa de uma caixinha, até achei que fossem formulários de imigração, mas era uma toalha úmida e quente pra higienizar as mãos. Chiquérrimo! Aí veio a janta com mais bebidas, e depois ofereceram café e chá. Aí eu apaguei no meio do filme, acordei de leve quatromilenovecentas vezes durante o vôo pra mexer os membros que ficam formigando, mas só acordei acordei mesmo quando a moça tava esticando a caixinha do café da manhã pro cara do meu lado. Pobre é dose, acorda só com o cheiro da comida hahaha.

Pronto, acabou o momento "por que eu amo a KLM". Logo depois do café chegamos ao aeroporto de Schiphol (que se diz 'skípol'). Na saída do aeroporto, conferência de passaportes e um cão farejador ainda no finger de desembarque. Confesso que me senti meio intimidada. Depois a imigração, que foi ridícula, o cara nem me disse bom dia, nem sorriu, e quase que nem carimba meu passaporte. Não falou nada, não perguntou onde eu tava indo, nada nada nada. Menos mal.

Peguei as malas e saí. O Marko, orientando do Norbert, já tava me esperando. Compramos o bilhete do trem e descemos de elevador até a plataforma. Os trens aqui têm dois andares e andam tão macio que nem parece trem. No caminho vi muitos fiordes, ovelhas e um moinho. Só falta ver uma vaca leiteira e um tamanco de madeira pra completar a lista de estereótipos holandeses hehehe.

A viagem até a estação central de Utrecht demora mais ou menos uns 35 minutos. Na estação central, comprei um ov-chipkaart (equivalente do Bilhete Único, do TRI, do Passe Rápido, etc) pra entrar no ônibus. Almoçamos no Burger King (minha primeira refeição tipicamente holandesa, rá!) e descemos pra pegar o ônibus. Até que foi fácil gerenciar as malas pra cá e pra lá, só foi ruim descer a escada até a plataforma do ônibus. O ônibus passou pelo centro histórico e eu, claro, fiquei babando. É tudo lindo e maravilhoso, afinal estamos na Europa e as mulheres não usam aquelas botas que parecem um pé de urso. Todo mundo é elegante. E aqui tem C&A! Se eu precisar comprar roupas já sei onde ir hahahaha.

Uns vinte minutos de ônibus e chegamos em De Uithof, que é o campus em que eu moro. Fui no escritório dos caras que alugam apartamentos a preços abusivos, assinei o contrato, paguei o primeiro mês de aluguel, peguei a chave e vim. É uma quadra só de distância e o Marko me ajudou com as malas.

Uma curiosidade sobre o sistema de numeração predial por aqui: os prédios às vezes não têm número. Quando eu vi meu endereço, achei que era o número do prédio e que o apartamento eu ficaria sabendo aqui. Mas não é assim! Meu endereço é o nome da rua e o número do apartamento, e por fora do prédio diz Cambridgelaan (nome da rua) cento-e-tanto a trezentos-e-tanto (números dos apartamentos). Eu achei bizarro! Mas tudo bem, minha lógica de que 302 devia ser no terceiro andar furou completamente e eu estou no décimo oitavo (e último) andar do prédio. Ainda bem que o Sr. Anônimo não veio junto, porque ele aqui ia morrer: as janelas são do tamanho da parede. Quem tem medo de altura tá lascado.

O apartamento tem tudo: fogão 4 bocas elétrico, mini-geladeira espaçosa, pia, secador de louça, louças de todos os tipos, talheres idem, cafeteira, chaleira elétrica, torradeira, panelas, mini freezer também bem espaçoso, microondas com grill, tv 19" flat screen com o melhor da programação local, prateleira pra livros, guarda-roupa duas portas com prateleira e cabides, cama de solteiro, mesa de cabeceira, mesa de centro, poltrona com luminária, mesa de trabalho com cadeira confortável e luminária, mesa de refeições com 4 cadeiras, secador de chão, vassoura, mop úmido, aspirador de pó, ferro de passar com tábua, água quente em todas as torneiras, e no banheiro tem lavadora e secadora de roupas. Bem bom.

Vou encerrar esse post por aqui porque eu tou morta de cansaço e preciso dormir. Amanhã eu conto pra vocês da minha primeira experiência no mercado, da programação televisiva local e da minha luta com a tábua de passar. Inté!

4 comentários:

Eduardo Parise disse...

Que tri, mana! Aproveita bem, a Holanda parece ser um país incrível.

Quanto à KLM, se não me engano foi eleita a melhor cia. europeia no ano passado. O antendimento deles é ótimo. A TAM também tem as tevezinhas com programação individual, muito bom nos voos longos. Quanto ao embarque direto na classe econômica, acho que aconteceu de tu embarcar num finger duplo, onde um finger vai na porta dianteira (pros bacanas) e o outro na porta logo a frente da asa (pra ralé).

Não bota foto da janela do teu prédio, porque eu tenho medo de altura (logo eu, né). Eu tenho medo até de me apoiar na janela aqui do prédio! hahaha

Divirta-se!

Clark disse...

Demorei cinco minutos para processar a parte “orientando do Norbert”...

Rafa Ariane disse...

Pronto.Agora a Holanda tmb está nos meus planos hahahaha

Leo disse...

pô Duda, medo de altura? logo tu que subiu na torre lá no Canadá? hehehe... sorry, mas em algum momento eu vou colocar fotos. mas eu aviso antes pros cardíacos pularem o post :)

Rafa, só tenho uma coisa pra te dizer: sorry! hehehe a Holanda é linda, cheguei faz pouco tempo mas já tou amando.