segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A maior neve de todos os tempos da minha vida

Então que eu comecei a me sentir meio mal já na festa de Natal, e não melhorou quando eu cheguei em casa. A Azadeh viu que eu não tava bem e me deu um treco iraniano milagroso pra tomar. Não sei o que era, mas sei que me senti bem menos pior e pelo menos consegui dormir. Mas meu estômago só parou de se revirar lá pelas cinco da tarde do dia seguinte. Aí eu consegui voltar a comer alguma coisa, muito de leve. Mas melhorar mesmo, 100%, sem nenhuma dor no estômago, só dois dias depois do ocorrido. Que chato, achei que eu ia conseguir voltar invicta, foi a primeira vez que eu passei mal com comida por aqui, e olha que oportunidades não faltaram. Enfim. Acontece.

O que me deixou mais chateada é que enquanto eu me contorcia de dor de estômago na cama o dia inteiro, Deus resolveu atender as minhas preces e mandou uma neve daquelas. Começou às onze da manhã e só parou no finalzinho da tarde, provavelmente minutos antes de eu conseguir me por de pé e comer alguma coisa. Olhei pela janela e tava tudo branquinho branquinho:







Um pouco mais tarde, o baiano veio me visitar pra ver como eu tava e aí descemos pra pisar na neve, ver a neve, lamber a neve, mexer na neve e jogar bolas de neve um no outro. Só não fizemos um boneco porque tava frio demais pra ficar mexendo muito na neve, e porque meu estômago tava doendo ainda quando eu me mexia. Mas o que vale é a intenção.



uma bola de neve momentos antes de ser arremessada

isso sou eu tomando uma bolada de neve

escolhi de propósito o cantinho com
mais neve pra enterrar os pés :P




Encostar na neve recém-caída é como encostar naquele gelinho farelento que se forma em freezers e congeladores de geladeira. É macio, gostoso e faz cócegas.

No dia seguinte, sexta-feira de tarde, ainda tinha neve por tudo. Fui pra universidade encerrar minha conta no banco e entregar três mil livros na biblioteca e aproveitei pra tirar umas fotos do campus.


no fundo, a McKeldin. que diferença dessa foto pras
fotos que eu tirei no verão!


E as fotos aí embaixo foram tiradas hoje, domingo, três dias depois que nevou. Vejam como ainda tem bastante neve acumulada. E agora, quase meia noite de domingo, acabei de olhar pela janela e ainda tem neve acumulada. É bem provável que não suma tudo antes de eu ir embora na terça. :)



O ruim é que a neve vai ficando perigosa e nojenta. Perigosa porque em alguns pontos ela descongela, mas não dá tempo de evaporar tudo antes de a temperatura baixar de novo. Aí ela recongela, mas em vez de ficar com aquela consistência farelentinha vira uma grande pedra de gelo mesmo: muito escorregadia! Por isso que todo mundo joga sal nas calçadas e o serviço de limpeza pública passa pra tirar toda a neve da rua: o risco de os carros patinarem e causarem acidentes graves é muito grande. Fico imaginando como seria se nevasse no Brasil, do jeito que os nossos governos costumam ser ágeis e eficientes pra lidar com enchentes e demais desastres naturais... E fica nojenta porque a cor vai mudando, especialmente a neve que se acumula no meio-fio vai ficando marrom, preta, não é nada bonito. Mas a neve que fica nas graminhas e nos telhados é linda e eu tou fazendo questão de pisar por cima sempre que possível. Bem adulta, eu... hehehe.

Ah, sim! Nada a ver com o assunto "neve", mas eu preciso contar duas coisas que aconteceram por esses dias:

1. Encerrando a conta no banco

Na sexta fui encerrar minha conta no banco. Alguns de vocês sabem o parto que foi encerrar a minha conta conjunta da FAPESP no BB na véspera de vir pra cá. Pra quem não sabe, um resumo: fiquei na agência das 10 da manhã às 4 e meia da tarde, sem almoço, sem água e sem saber quem eu mataria primeiro se tivesse a oportunidade.

Aqui? Entrei na agência e imediatamente fui atendida. Perguntei o que precisava pra fechar a conta. Resposta: saque todo o seu dinheiro e depois de 5 dias sem saldo e sem atividade sua conta será encerrada automaticamente. Entrei na fila pra sacar o dinheiro e em menos de 5 minutos estava sendo atendida por um funcionário muito simpático (como todos os que me atenderam até hoje) que, quando eu pedi pra sacar tudo, perguntou se eu estava encerrando a conta, quis saber por que, falei que eu tava voltando pra casa, ele perguntou onde era, quis saber quanto tempo fiquei aqui, se eu tinha gostado, o que eu fazia, enfim, muito muito simpático. E em menos de dez minutos minha conta estava encerrada.

Aliás, isso é uma coisa engraçada: os americanos são meio distantes, não são de dar confiança e sair fazendo amizade com todo mundo e tal. Brasileiro tem essa mania de conhecer alguém hoje e amanhã já chamar de amigo (eu sei que eu sou brasileira, mas eu acho isso estranho e não sou assim). Aqui demora um bom tempo pra fazer amigos desses pra quem a gente conta coisas pessoais, etc. Mas todo mundo se trata muito bem em toda e qualquer circunstância e as pessoas sempre vão puxar assunto contigo, seja em College Park, seja em Nova York. Sempre. E dão bom dia quando passam por ti na rua, mesmo que nunca tenham te visto, e se vêem que tu precisa de ajuda te ajudam. Hoje mesmo tinha uma senhora no metrô tentando vestir o capuz do casaco; ela tava com dificuldade e imediatamente uma outra senhora que tava por perto foi lá e ajudou. Eu acho isso bem legal.

Moral da história número 1: eu amo o meu banco americano, seja ele o Chevy Chase ou o Capital One.

Moral da história número 2: ser simpático é culturalmente valorizado por aqui. Raramente a gente é mal atendido nos lugares. Aliás, o atendimento aqui tende a ser bem melhor do que no Brasil, que se considera o rei da hospitalidade. Pois digo pra vocês: no Brasil tem muito mais balconistas com cara de quem tá te fazendo um favor. Mesmo em comparação com College Park, que não é assim um grande exemplo de civilidade.

2. A perseguição

No dia da superneve, que eu quase morri, teve uma super perseguição policial aqui na frente de casa. Eu me recolhi cedo, umas nove da noite, e fiquei deitadinha na cama, quietinha, assistindo meus seriados. Por volta das onze e meia eu fui no banheiro, no claro intuito de voltar pro quarto, apagar a luz e dormir. Mas quando eu tava no banheiro ouvi gritos na rua, gritos desesperados, pra ser mais exata. Quando voltei pro quarto, olhei pela janela e não vi nada. Apaguei a luz. Nem cinco minutos depois, encostou uma viatura da polícia bem aqui na frente. Desceram dois policiais com lanternas acesas e desceram correndo aqui pela lateral do prédio. Dali a uns minutos apareceu outra viatura, ficou um pouco por aqui, um dos policiais voltou, conversou com os que tinham chegado. Depois chegou outra viatura. E um furgão com cães farejadores. E os policiais dê-lhe apontar a lanterna pra tudo quanto era lado, pras árvores, pra neve, embaixo dos carros, e os cães farejadores farejando, e as luzes das viaturas acesas iluminando a vizinhança inteira (uma viatura já é escandalosamente iluminada, imaginem seis e um furgão).

Claro que desisti de dormir e fiquei na janela, discretamente, tentando entender o que tava acontecendo. Também fui na sala e tranquei a porta loucamente, afinal a porta do prédio não tem tranca nenhuma e algum fugitivo podia tentar se esconder aqui dentro. Entrei na internet pra tentar ver notícias de Hyattsville, mas não achei nada que estivesse acontecendo naquele momento. Sei que fiquei acompanhando as buscas, inclusive a tentativa de arrombamento de um carro que tava estacionado por aqui, até as duas da manhã. Como não entendi nada, não tive coragem de descer pra perguntar, e parecia que eles não iam embora tão cedo, desencanei e dormi.

No dia seguinte, tentei descobrir o que tinha acontecido, mas não encontrei nenhuma notícia na internet, nem encontrei o Stan aí pela frente (o super Stan tudo sabe e tudo vê). Só hoje descobri: foi um assalto (na verdade, há controvérsias se foi um assalto ou dois). Perceberam? Um assalto (ou dois) gerou toda essa comoção, seis viaturas, pelo menos dez policiais, cães farejadores, todos rondando durante horas pra capturar o criminoso. Igualzinho ao Brasil.  

Despedida do Mathias e festa de Natal

Eis que para compensar o semestre nada agitado em termos de vida social, na última semana tivemos duas festas: a despedida do Mathias, pós-doc alemão que estará embarcando de volta pra Alemanha amanhã se o tempo permitir, e a festa de Natal do departamento.

As duas festas foram muito legais e serviram pra gente socializar com o pessoal. Também serviram pra eu tirar fotos com as pessoas e me despedir de todo mundo. (A festa de Natal também serviu pra alguma comida me fazer muito mal, quase me matar e me deixar acabada e de cama no dia que finalmente nevou como se deve, mas sobre a neve eu conto no próximo post.)

Algumas fotos dos dois eventos pra vocês verem as caras de quem trabalha e estuda comigo por aqui:

WingYee, Yakov, Pedro, Mathias, eu e o baiano

Mathias, eu e o baiano

Yakov, Mathias odiando ser carregado e o baiano

eu, Mathias e o baiano na estação de metrô

baiano, Yakov e eu no metrô

eu e o Michael


eu, Yakov e Mathias numa foto
espontânea

eu e o Yakov

baiano et moi

os Baggetts

Colin e eu

eu, Csilla e o marido dela (Michael?)

Csilla, sempre elegante

Larson e eu

Laura e eu

"eu não sei por que as fotos não tão ficando boas!"

Dustin e eu

de novo

eu, Shevaun e Mathias

eu e Shevaun

eu e Alexander, take 1

take 2

take 3 (esse cara é muito engraçado!)

Alexander e o baiano

Naho fofa, Mathias e eu
Muita gente não foi na festa, então não pude tirar foto com todas as pessoas legais que eu queria mostrar pra vocês. Mas aí em cima tem uma boa amostra :) 

National Christmas Tree

Quem acompanha o blog deve lembrar que, na minha primeira visita a DC, eu postei uma foto da árvore de natal nacional, que fica na frente da Casa Branca. Pois bem. No dia 9 de dezembro ia ter a inauguração da árvore, com direito a família Obama acendendo as luzes pela primeira vez e show do B.B. King (e outros músicos americanos menos importantes). Quando eu descobri isso, fiquei louca pra ir. Dois minutos depois, descobri que pra ir precisa de ingresso, que os ingressos são sorteados com meses de antecedência, e que o sorteio tinha acontecido dois dias antes de eu lembrar de me informar sobre isso. Mas como eu sou brasileira e não desisto nunca (e não fui no show do B.B. King no Brasil porque ainda não aprendi a descomer dinheiro), decidi ir mesmo sem ingresso e ficar lá por perto, pra pelo menos ouvir um pouquinho do show.

O único problema é que a inauguração da árvore começava às cinco e nós tínhamos aula com o Norbert até as cinco. E era a última aula do semestre. Plano B: assistir a aula e sair correndo do campus direto pra DC. Calculamos que até rolar todas as firulas, apresentações de corais locais e etc, chegaríamos por volta das 6:30, bem a tempo pro melhor da festa.

Assim fizemos. Tava um frio louco naquele dia, como tem sido desde sempre; mas além do frio tava aquele vento que faz as temperaturas descerem a -13ºC aqui em College Park (imagina lá em DC, do lado do rio!). Vesti duas meias-calças de lã, uma calça jeans, uma meia de algodão, uma meia de lã, segunda pele, camiseta de gola alta, blusão de gola alta, capa, gorro, luvas de camurça com pelinhos por dentro, cachecol, capa e tênis. E levei na bolsa minha calça de microfibra do abrigo pra vestir por cima do jeans antes de sair da universidade, pra atacar o vento.

O Norbert normalmente vinha acabando as aulas um pouco antes do horário, o que teria sido muito bom pra nós. Teria sido, no condicional, porque ele simplesmente esqueceu que tinha que dar aula pra gente, o que fez com que a aula começasse vinte minutos atrasada e conseqüentemente terminasse em cima da hora. Pensei em desistir, mas ouvir o B.B. King ao vivo valia o sacrifício. Fomos. Saímos correndo da aula, pegamos o shuttle, metrôs e nos mandamos.

Chegamos na área do show bem em tempo de ver as luzes se apagando e todo mundo indo embora. Eram 6:30. Tudo bem que aqui o povo é pontual e se diz que vai começar às cinco começa às cinco e era isso. Mas pô, o B.B. King deve ter cantado meio jingle bells, quando muito! Foi muito frustrante. Mas já que a gente tava lá aproveitamos pra dar uma voltinha e bater fotos da árvore iluminada.

a árvore

a árvore e o obelisco

tchans!


a Casa Branca de longe

a Casa Branca mais de pertinho

em respeito aos judeus que não comemoram
o Natal com árvores e Papai Noel
Em volta da árvore principal tem 56 arvrinhas menores representando os 50 estados, os 5 territórios e o Distrito. Fomos catar a de Maryland, mas não era grande coisa, e nem era muito diferente das outras. Em todo o caso, aí estão algumas fotos:

a árvore de Maryland

nós e a árvore de Maryland

de novo
Vimos tudo rápido, porque tava muito frio. Decidimos parar pra comer alguma coisa no caminho entre o parque e a estação de metrô. Aproveitei pra tirar algumas fotos de DC à noite pra vocês verem. É bem bonito, e parece bastante seguro também.




Paramos pra comer numa padaria e eu tomei uma sopa de tomate incrivelmente deliciosa. Não sei como eles fazem sopa de tomate sem ter gosto nem aparência de molho. Mas catei uma receita na internet e vou tentar fazer quando eu voltar pro Brasil hehehe. Também tomei uma limonada tradicional - mais uma coisa da qual eu vou sentir saudades - e de sobremesa comi uma fatia de lemon pound cake do tamanho da minha mão. Tá, na verdade eu comi a metade e a outra metade eu enrolei num guardanapo, botei na bolsa e comi no dia seguinte, de tarde, com um chá de limão e gengibre. Sim, eu adoro limão. Sim, eu tou apaixonada por lemon pound cake e não sei como vou sobreviver sem. Sim, já catei receitas na internet. Sim, minha mãe já fez uma pra testar. Não, não ficou com essa cobertura linda e deliciosa. Sim, vamos tentar fazer de novo.

viu, mãe? a calda é molinha, escorre no prato, não é um
glacê normal...

Warner Theatre, no caminho pro metrô
Pois é. Não vi o B.B. King. Aliás, vim pra esse país na esperança de ver shows de pelo menos alguns dos meus ídolos, mas não logrei êxito. Pelo contrário: muitos deles foram tocar no Brasil (a preços absurdos que eu não teria como pagar, mas isso é detalhe) e os que porventura ainda não foram devem ir entre fevereiro e abril, quando eu estiver na Holanda...