quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tratado sobre o clima da Terra de Maria

Voltando um pouco na história recente do blog, vi que no início de novembro eu comentei que as temperaturas não andavam passando dos 15ºC e que as mínimas andavam chegando a 1ºC. 

Pois é. Aqui as temperaturas mudam abruptamente. Fez muito calor até o final de setembro, com as temperaturas passando dos 30ºC todos os dias. 


modelito verão


Depois disso começou a meia-estação, que durou aproximadamente três semanas. Nesse período dava pra sair de calça e manga curta, um casaquinho leve, sapatilha sem meia. Durou pouquíssimo. Na ida pra Boston, no dia 28 de outubro, foi a última vez que eu usei manga curta. E quase congelei na volta pra casa, tanto que peguei uma supergripe que me deixou derrubada durante toda a semana seguinte. 


meia-estação em Alexandria

Boston: a última manga curta até chegar
ao inferno porto-alegrense


Ah, e no mês de outubro choveu muitas vezes, e sempre chuvas muito fortes, com inundações pra cá e pra lá, queda de árvores, falta de luz e o escambau. Nesse sentido até acho bom que tenha durado pouco.

Mas então vejam, já no final de outubro as temperaturas despencaram pra máximas quinze graus e mínimas em torno de 1 grau. E nunca mais fez nada parecido com calor.

Do final de novembro em diante, as coisas mudaram de novo: passou a fazer muito frio. As máximas desde então nunca mais passaram dos 10ºC. E olhe lá! Na maioria dos dias não passava de 8ºC, depois ia até 6ºC, agora tem ido no máximo a 3ºC. E as mínimas, que antes ficavam por volta de 1ºC, agora caem facilmente até -3ºC, -4ºC, especialmente durante a madrugada. Isso é o que marca o termômetro. Na prática, aqui venta mais do que no litoral gaúcho (sério, nordestão aqui é brisa), e isso faz a sensação térmica ser bem menor: não tem passado de 0ºC, e ontem de noite chegou a -6ºC. Já tivemos previsão de neve ontem (mas não nevou), e acho que vou ver neve antes de ir embora.


o dia em que eu quase congelei
a estética do frio
aprendendo a me agasalhar


E o pior não é isso. Isso é só o começo. Até o início do inverno, e durante janeiro e fevereiro, a temperatura ainda vai cair muito. Por aqui as temperaturas chegam facilmente aos -20ºC. E se vocês acham que isso é deseperador, deixa eu contar que em algumas regiões mais ao norte já está fazendo -1ºF, ou seja, -18ºC.

Outra coisa engraçada é a vegetação. Ali pelo final de outubro as árvores ficaram lindas, cheias de folhas amarelas e vermelhas. Agora as árvores tão praticamente peladas, as folhas tão todinhas pelo chão. As únicas árvores que não perderam as folhas foram os pinheiros. Agora eu entendo por que o pinheiro é a árvore de Natal: é a única que mantém as folhas!

Começa a amanhecer mais ou menos às seis e meia, mas o sol mesmo só desponta depois das sete. E ao meio-dia e meia o sol já tá descendo (como vocês puderam ver na foto que eu postei esses dias). Às quatro e meia não tem mais sol, e às cinco e meia já é noite fechada.

Moral da história: finalmente tudo o que eu aprendi no colégio sobre as quatro estações tá fazendo sentido: estações bem definidas, verão com dias mais longos, inverno com dias mais curtos, vegetação perdendo completamente a folhagem, mudança na orientação do sol... Aqui a gente vê claramente tudo isso. No Rio Grande do Sul a gente até vê as folhas caindo (mas não todas), os dias ficam um pouco mais curtos no inverno e um pouco mais longos no verão, mas nada que se compare com o que eu vi por aqui (lembrem que no verão às nove ainda tinha sol). E mesmo no inverno, a gente tem alternância entre dias mais frios, chegando até a 0ºC, mas tem dia de inverno que faz trinta graus e dá pra sair de saia e manga curta. Não aqui. Depois de outubro não deu mais pra usar bermuda e regata, depois de novembro nunca mais fez um calorzinho. As temperaturas não oscilam muito, ou é sempre calor ou é sempre frio, com umas semaninhas curtas de meia-estação no meio.

Eu, obviamente, me ralei né. Trouxe bastante roupa de calor, pois ia pegar mais de dois meses de verão, bastante roupa de meia-estação, porque ia pegar o outono inteiro, e umas roupas de frio, porque ia pegar o inicinho do inverno. Ledo engano. As minhas roupas de meia-estação vão voltar praticamente intocadas (algumas têm servido pra fazer as camadas e mais camadas que eu uso pra sair atualmente). 

Minha vestimenta diária é composta, basicamente, por:

* Meu sobretudo de lã ou a minha capa impermeável até o joelho. Ainda bem que eu comprei essa capa! Comprei porque é boa pra chuva, mas acabou saindo melhor que a encomenda: ataca o frio e cobre mais o corpo. E tem bolsos, coisa que o meu sobretudinho não tem.

* Meia-calça de lã, mais uma meia de algodão até o joelho, mais uma meia de lã por cima. É o único jeito de o meu pé não congelar. Tentei várias outras estratégias, mas na quarta vez que cheguei em casa com os dedos roxos e sem conseguir mexer resolvi deixar os pudores de lado e me entupir de meia mesmo. Melhor isso do que perder os dedos. Ah, e uma calça, é claro. Se vou ficar mais dentro de prédios, saio de jeans; mas se vou ficar na rua, tenho saído com a minha calça nova, que é de lã e tem um forrinho de jérsei. Ajuda muito a atacar o vento.

* Uma segunda pele, mais uma camiseta de manga comprida (de preferência de gola alta), mais uma blusinha fina de lã ou um blusão mais grosso, também de gola alta (o único que eu trouxe).

* Um cachecol grande e grosso pra proteger o pescoço e o rosto (além de quase congelar, a pele sofre muito com o frio).

* Touca e luvas de lã. Aliás, as luvas às vezes não são suficientes porque deixam passar o vento. Olhei pra comprar luvas de couro, mas achei muito caro. Tou me virando com as que eu tenho mesmo. Idem pra touca; em dias de muito vento, como ontem, meu ouvido dói loucamente. Ontem enrolei o cachecol por cima da touca e resolveu um pouco. Mas tou pensando seriamente em comprar um protetor de orelha, especialmente porque vou pra Holanda em fevereiro - e lá faz tanto frio quanto aqui, ou mais.

Pois é, gente. Eu devo dizer que não sabia o que era frio até vir pra cá. Nunca mais vou bater queixo por qualquer cinco graus. Mas não tou reclamando não! É meio ruim pra andar na rua, principalmente quando venta, mas continuo preferindo mil vezes o frio ao calor. 

Agora, obviamente tanto o calor quanto o frio, aqui, só são suportáveis porque todo e qualquer prédio, casa, ônibus, metrô, etc tem ar central e aquecimento central. A gente só passa frio e calor na rua. Dentro dos lugares é sempre agradável. E pra quem tá pensando "coitadinhos dos carteiros que têm que andar no calor e no frio", se engana: aqui todos os carteiros têm pequenos veículos motorizados, tipo uma minivan, que eles vão estacionando de casa em casa, de prédio em prédio, pra entregar as correspondências. Assim a vida - a nossa, a deles e a de todo mundo - fica muito mais fácil.

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