Eu tenho um interesse antropológico por banheiros públicos. Explico. Eu acho que os banheiros públicos de um país nos dizem muito sobre, bem, o povo que os usa. Quando eu voltei da Itália eu jurei que ia escrever um livro só pra falar dos diferentes tipos de vasos sanitários, descargas, torneiras, portas, secadores de mão e tudo o mais, de tanta diversidade que eu encontrei nesse particular aspecto daquela sociedade.
Pois bem, aqui nos Estados Unidos não há, ao menos na minha modesta e ainda pouca experiência, tanta diversidade quanto na Itália. Talvez os italianos sejam mais complexos, emotivos e cheios de nuances em oposição ao pragmatismo norte-americano. Mas isso não significa que aqui não haja o que comentar.
Por exemplo, uma coisa que me deixa abismada é o fato de nos banheiros públicos (ao menos em aeroportos e aqui na universidade) a descarga ser acionada automaticamente quando a gente levanta - numa clara demonstração do acima referido pragmatismo. Afinal pra que perder um ou dois segundos se virando e acionando um botão, não é mesmo?
Pois devo dizer com toda a sinceridade que me é característica: não gosto. Primeiro porque eu ainda não me acostumei (se é que vou me acostumar um dia) e tomo um susto toda vez. Segundo por uma questão prática. Aqui no primeiro mundo não tem cestinho pra jogar o papel higiênico, vai tudo no vaso. No banheiro feminino tem uma caixinha minúscula pra descartar absorventes e era isso, o papel vai descarga abaixo. Mas e se eu quiser assoar o nariz? E se eu só lembrar de assoar o nariz depois que eu já levantei? Vou ter que provocar outra descarga pra descartar o papel, o que é totalmente anti-ecológico. Isso sem contar que provocar outra descarga não é tão simples quanto parece. Não, não adianta ficar se mexendo e pulando na frente do vaso; tem que sair, entrar de novo, sentar e levantar. Totalmente exeqüível em época de férias, quando o banheiro tá vazio. Mas e quando as aulas recomeçarem e o banheiro estiver bombando? Já pensou no ridículo da situação?
Mas nem tudo são espinhos. A maioria dos banheiros de aeroportos e alguns aqui da universidade oferecem, de graça, camisinhas e absorventes. E no aeroporto ainda tem fio dental, Listerine® e lenço umedecido pro rosto. É só girar alavancas e apertar botões e tá tudo ali. E o banheiro aqui da universidade tem sabonete em espuma, que eu adoro, dispensado via sensor, como as torneiras. Bem bom. E os sensores das torneiras funcionam, não é como os dos shoppings do Brasil que tem que ficar sacudindo a mão embaixo meia hora. Aliás, fico imaginando como seria uma descarga acionada por sensor no Brasil: a pessoa entra e a descarga aciona. Senta, aciona de novo. Se mexe um pouquinho no vaso e aciona de novo ("vá ao banheiro e ganhe uma ducha grátis"). Aí a pessoa levanta e nada de a descarga acionar, porque o sensor é inteligente e não aciona mais do que três vezes num intervalo de cinco minutos, pra economizar a água do planeta. (Eu sei, horrível ficar tirando sarro do Brasil, mas digam aí se não tem toda a cara de que seria assim!)
Ãnfãn, vou ter que me acostumar. Pelo menos o banheiro de casa é na base da boa e velha alavanca. Porque um pouco de retrocesso, convenhamos, não faz mal a ninguém.
7 comentários:
Minha pergunta é:
E se numa dessas o "negocio" sai em muita quantidade (que convenhamos com a obesidade mórbida desse país não é nada difícil) que não vai pelo cano? A outra pessoa que se vire com o "presente"? hehehehe
Bom mesmo é puxar a cordinha. =P
as descargas aqui são muito potentes. believe me. se puxa papel, puxa todo o resto. mas cordinha rules!
uau!!! deve ser perigoso escorregar e cair sentado enquanto tá rolando uma descarga então!
¬¬
Rolei de rir com o teu texto! muito etnográfico... tirar sarro do Brasil é horrível, mas lembrei de todas as vezes que tentei lavar a mão no banheiro do shopping e quiz arrancar a torneira... outra hora te conto de um episódio meu em Paris, tentando sair de um banheiro público cuja porta abria por sensor...
Vivi, tou louca pra pra saber a história do banheiro! passei por umas boas com portas "sensorizadas" na Itália também...
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