Ai, nem sei por onde comece, como diria Caetano. E só por eu estar citando Caetano vocês devem deduzir que eu devo estar de bom humor. Pois então. É isso mesmo. Deixa eu explicar:
É bem verdade que começo de aula sempre me empolgou, desde que eu me conheço por gente ia bem feliz pra aula no primeiro dia. Mas dessa vez é diferente. Cara, a minha primeira aula do semestre foi com o Pietroski! Pros não-lingüistas que lêem esse blog (e pros lingüistas desinformados também... rs): ele é um cara muito muito muito muito bom, super reconhecido na área, enfim, vocês entenderam. Na verdade o Pietroski marcou muito a minha vida porque ele deu um curso na UFSC na minha primeira semana lá (lá se vão cinco anos). Eu, claro, não entendi quase nada do curso, afinal nunca tinha tido semântica formal na vida e o curso dele era bem avançado. Mas mesmo assim na época achei ele muito didático. E ontem confirmei a minha impressão: a aula do cara é um show. O curso que ele tá dando é de introdução à semântica, e é introdução mesmo, o cara começa da coisa mais básica possível: o que é significado.
Isso é uma coisa que realmente me impressiona: mesmo sendo um dos melhores departamentos de lingüística no mundo, aqui ninguém pressupõe que as pessoas chegam sabendo x ou y. Curso de introdução é curso de introdução e começa do zerinho. Umas matérias assim eram tudo o que eu sempre quis na vida e olha só onde fui conseguir: no meu último ano de doutorado no departamento mais foda que existe. Se eu tivesse tido isso no início do mestrado acho que a minha vida teria sido bem mais fácil (e digo isso com base na única matéria de introdução a alguma coisa que eu tive na vida que realmente começou do zero: o curso de introdução ao minimalismo que a Ruth deu no meu primeiro semestre na UFSC).
Bom, mas aí como se não bastasse a emoção da aula do Pietroski e a receptividade dele com a gente, hoje tive o meu momento de emoção suprema, que só será superado se eu realmente conseguir ir pro MIT assistir umas aulinhas do Chomsky: tive minha primeira aula de introdução à sintaxe com o Lasnik. Pra vocês entenderem a importância do Lasnik, eu costumo chamar ele de "o vice". Tipo, o Chomsky está ao trono e o Lasnik está à direita do deus pai todo-poderoso. Esse cara construiu a teoria junto com o Chomsky, participou ali de quase todos os momentos fundamentais, e agora cá estou eu tendo aula com ele. E vou dizer pra vocês: chegou uma hora no meio da aula que o meu olho encheu de água de emoção. E depois que eu cheguei em casa e fiquei lembrando da aula o meu olho encheu de água de novo. Podem me chamar de manteiga derretida, mas eu realmente me emocionei. Não só porque ele é quem ele é ou porque a cada cinco minutos ele conta uma anedota sobre a história da teoria gerativa. Não. É porque faz trinta anos que o cara dá essa aula e o olho dele ainda brilha quando ele começa a falar de sintaxe. A aula também começou pelo mais básico do básico e dava pra notar claramente como ele tava empolgado falando daquilo, como se tivesse descoberto ontem e não há quarenta anos atrás.
Quinta tem a minha última estréia: a aula do Norbert. Difícil vai ser escolher a melhor das três.
Hoje tivemos também a festa do departamento, um almoço pra todo mundo socializar e se apresentar. Deu pra ver muito mais gente do que eu já conhecia, e sei que teve gente que não tava lá. O departamento é muito grande! Mas o momento supremo foi quando, já no final, eu tava sentada perto do Lasnik (com quem eu até então não tinha interagido) e entrou um cara na sala pra comer também. Aí o Lasnik vira pra mim do nada e pergunta se eu já tinha conhecido o Juan. Ainda bem que eu não tava de boca cheia, senão acho que tinha cuspido tudo. Era o Uriagereka, um dos meus grandes ídolos da new generation gerativa. Pena que nesse semestre ele não vai dar matéria, mas é certo que eu vou marcar um horário com ele pra discutir meu trabalho.
Antes de encerrar o post, só quero fazer uma nota sobre a receptividade dos professores por aqui. Todos eles encorajam a gente a marcar atendimentos pra tirar dúvidas sobre a aula, dúvidas sobre leituras, discutir a pesquisa da gente... E na verdade marcar horário é só se a gente quiser, porque se o cara tá na universidade e a porta do escritório tá aberta é só entrar e conversar. Eu acho isso muito fantástico. E o Norbert, que é chefe do departamento, tá sempre circulando pra cá e pra lá, batendo papo com todo mundo, se inteirando do que a gente anda fazendo, oferecendo biscoito às três da tarde... Nunca vi nada nem parecido com isso no Brasil, acho que a USP é o que temos de mais próximo, mas ainda assim não chega nem perto.
Por que é que eu não vim fazer o meu doutorado inteiro aqui mesmo?
Um comentário:
É que aqui os professores acham que são seres superiores e não podem perder seu precioso tempo dando explicação para reles mortais, como os alunos, por exemplo. Nada como o primeiro mundo!
Postar um comentário